AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O DONO DA BOLA

Quando era miúdo, aí pelos dez, doze anos, era o Pedro o dono da bola. Há sempre um dono da bola, ainda hoje, mesmo quando já não se trata da bola mas lá chegaremos.
Como ia dizendo, da presença do Pedro dependia o sonho, perdão, o jogo, é que sem bola não há jogo. Nenhum de nós tinha possibilidades de ter uma bola daquelas, de cauchu, só o Pedro e é claro que quando ele aparecia com aquela preciosidade era o mais festejado dos amigos.
Como também é habitual nestas histórias, o Pedro não tinha qualquer jeito para o futebol, nenhum mesmo. No entanto, o dono da bola tem que jogar e lá se fazia um esforço para o integrar numa das equipas. Não era fácil, ninguém quer ter na equipa um "pé de pedra". Procurávamos até que o Pedro rodasse para que o "problema" não fosse sempre para os mesmos.
Era pois assim, o Pedro, só tinha amigos quando trazia a bola. Eu acho que ele percebia isso e nós também. Éramos apenas amigos da bola do Pedro.
Actualmente já quase não se joga à bola na rua mas continua a haver muitos Pedros, ou seja, miúdos que "compram" amigos, de muitas maneiras.
Se bem estivermos atentos, vamos encontrar nas escolas, por exemplo, muitos comportamentos como pequenos roubos, agressões ou insultos e indisciplina em sala de aula, realizados por miúdos que procuram, assim, ser aceites em grupos ou fazer parte das relações próximas de colegas mais populares. Muitas destas crianças são pessoas sós, pouco confiantes em si próprios e que precisam de atenção e uma relação para ser gente, no fundo como todos nós.
Eu acho que o Pedro gostava e precisava de acreditar que tinha um "monte" de amigos com quem jogava à bola.

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