AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NÃO TEM JEITO PARA A ESCOLA, VAI PARA O CAMPO

Já não deveria conseguir ficar mais preocupado do que estou com a situação política do país mas consegui. De facto, ao ler a entrevista de Paulo Rangel ao I, em particular no que respeita à educação, fiquei mais preocupado.
O Dr. Paulo Rangel, enquanto candidato a presidente do PSD, pode sempre vir a ser Primeiro-ministro pelo que se torna importante estar atento às suas ideias. Vejamos então alguns aspectos.
O Sr. Dr. defende que a formação profissional possa acontecer cerca dos 12 anos. Se o Sr. Dr. tivesse algum conhecimento de como funciona a cabeça das generalidade das crianças nesta idade perceberia sem grande dificuldade que a "escolha" seria uma decisão dos adultos, pais ou professores já se vê. Por acaso, a OCDE divulgou há dias um relatório sublinhando a fortíssima relação existente em Portugal entre o nível de escolaridade dos pais e o nível de escolaridade dos filhos, ou seja, pais pouco escolarizados terão filhos pouco escolarizados. Se juntarmos esta constatação às ideias do Dr. Rangel teremos então, preto no branco e de forma estruturada, os meninos com pais com bom nível escolar a prosseguir estudos e os meninos com pais pouco escolarizados a ser canalizados para a formação profissional logo cedo, porque como diz o Dr. Rangel, precisamos de um canalizador que, obviamente, não será alguém, com um pai licenciado em Direito e professor universitário. Sabemos ainda como a escola tende a discriminar positivamente os meninos com melhores resultados e com pedigree académico pelo que as próprias escolas poderiam, caso existisse a oferta proposta pelo Dr. Rangel, orientar logo os miúdos que só atrapalham e dão problemas, para a formação profissional. Esta proposta lembra-me um tempo em que se dizia, "não tem jeito para a escola, não faz mal, vai para o campo" e eram sempre os mesmos a ir para o campo. Devo dizer que subscrevo de há muito a diversificação dos percursos de formação, mas não nestas idades e nestes termos.
A esta notável ideia acresce o sempre presente equívoco da liberdade de escolha e, mais um vez, me parece necessário sublinhar a ineficácia e a demagogia da ideia. Mesmo com um cheque na mão para pagar a cara mensalidade de uma escola privada, todos nós sabemos que miúdos de famílias não escolarizadas e de baixo estatuto social NÃO SERIAM ADMITIDOS em muitos dos melhores colégios. Não é porque não possam pagar, teriam o tal cheque providenciado pelo estado, é uma questão de estatuto e decisão das escolas. Esta situação não é desconhecida.
A questão é sempre, sempre, repito, qualidade e exigência na escola pública.

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