AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A ENVERGONHADA POBREZA QUE ENVERGONHA

Devido ao volume crescente de situações de pobreza decorrentes de situações de desemprego que afectam milhares de pessoas que se julgavam a coberto deste tipo de riscos surgem muitíssimos casos do que se entende designar por “pobreza envergonhada”, ou seja, pessoas que sentem um embaraço pessoal e social enorme no assumirem das dificuldades porque passam. A pensar nestas pessoas, a Cáritas Portuguesa vai distribuir vales que possibilitem o acesso a bens essenciais de alimentação sem que as pessoas tenham de se deslocar às instituições de apoio social.
Este cenário é absolutamente extraordinário. Para além das consequências óbvias das dificuldades ainda se torna necessário, como várias vezes aqui tenho referido, acautelar a dignidade das pessoas afectadas.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, não tenho dúvidas. Mas também não tenho dúvidas que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de dois milhões de portugueses conhecem, exigem uma recentração de prioridades e políticas. Não sei discutir se os famosos investimentos em grandes projectos têm ou não valor reprodutivo e gerador de riqueza, mas tenho a certeza de que existe um fortíssimo desperdício na gestão da coisa pública, que existe uma escandalosa situação de privilégio em muitíssimas instituições privadas, uma fiscalidade protectora da banca e investimentos de duvidosa necessidade e justificação como, por exemplo, os dois submarinos que agora emergiram para a agenda.
A envergonhada pobreza deveria envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera. A liderança que transforma é uma liderança com responsabilidade social e com sentido ético.

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