AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A MOCHILA DOS MEDOS

Neste início de ano lectivo uma das rotinas a iniciar ou a retomar, sobretudo para os mais novos, é a organização da mochila. Como é sabido, as mochilas dos miúdos andam de tal maneira carregadas que o seu transporte configura um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
A maioria dos pais é cuidadosa com a ajuda aos filhos na tarefa de organização da mochila. No entanto, esquecem-se, por vezes, de algo que os miúdos carregam que só com alguma atenção se nota e pode causar algumas dificuldades. Estou a referir-me aos medos que os muitos gaiatos transportam.
O medo de não ser capaz de aprender, o medo de não corresponder às expectativas, por vezes demasiado altas, dos pais, o medo das comparações com os outros, o medo das brincadeiras que adultos ansiosos lhes incutem, o medo induzido por discursos ligeiros sobre os riscos e perigos que espreitam por todo lado. O medo de futuro que não controlam e não antecipam. Entre outros.
Parece-me, por isso, que os adultos andarão bem se estiverem atentos ao que os miúdos carregam nas suas mochilas para além dos inúmeros materiais. Muitas crianças e adolescentes sentem uma enorme dificuldade em lidar com os medos, sobretudo quando se sentem sós. Por vezes, acabam por se juntar a outros tão assustados quanto eles. Quase nunca dá bom resultado.

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