AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

MEDO

Esta campanha eleitoral tem sido fértil em referências ao período do Estado Novo o que só, por si, me parece solicitar uma análise de natureza psicossociológica para a qual não estou habilitado. Sucedem-se referências aos tempos da “outra senhora”, ao discurso “salazarento”, a citações de Salazar que se conjugam com discursos actuais, etc. Tudo isto partiu, creio, da famosa “asfixia democrática” que é fruto de uma evolução somatizada da “claustrofobia democrática” assinada por Paulo Rangel. Os discursos em torno da ideia do medo e da asfixia atingiram níveis inimagináveis. Ferreira Leite consegue afirmar hoje que “as pessoas têm tanto receio de falar que já nem aos técnicos de sondagens respondem a verdade” e explica assim os menos simpáticos indicadores. Eu oiço estas referências e fico perplexo.
A maioria dos que produzem afirmações deste tipo conheceram e experienciaram o que é viver numa sociedade de medo, o período do Estado Novo. Eu lembro-me bem e acho absolutamente patético e despudorado que se compare a situação actual com aqueles tempos. É um insulto a quem foi preso, torturado, proibido de prosseguir carreira profissional e até assassinado. Também sei que em todos os tempos, nestes também, se geram relações de poder que alimentam clientelas que vivem do conformismo acrítico, é a partidocracia instalada. No entanto, não pode valer tudo em política. Eu posso, sem correr riscos de prisão ou outros incómodos dizer tudo isto assinando por baixo, posso criticar o poder, seja ele qual for, tenho-o feito frequentemente aliás mas, sobretudo, tenho memória. E não esqueço, repito, o que é uma sociedade de medo.

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