O DN coloca em primeira página a decisão da Escola José Ruy na Damaia, pertencente ao Agrupamento de Escolas Dr. Azevedo Neves, de constituir as suas turmas por nível de competência escolar. Assim, definiram-se três turmas, os “bons”, os “médios” e os "fracos”. O Sr. Director da Escola afirma tratar-se de um projecto pedagógico já utilizado no agrupamento mas sem a contestação que os pais estão a levantar nesta escola. O ME não defende a prática e aconselha cautela na constituição de turmas de nível, como se chamam.
Ao que o trabalho jornalista também adianta, alguns pais, quer de bons alunos, quer dos menos bons, contestam a medida por a considerarem discriminatória recorrendo até a expedientes como o atestado médico para tentar travar a colocação dos seus filhos nas respectivas turmas.
Em primeiro lugar, convém ser claro, turmas constituídas com base no rendimento escolar, no comportamento ou na origem social e familiar, não são raras nas nossas escolas, é do conhecimento da tutela que tolera o procedimento, as escolas têm autonomia nesta matéria. Sabemos todos de turmas maioritariamente constituídas por repetentes ou oriundos de alguns bairros, bem como, pelo contrário, turmas maioritariamente constituídas por bons alunos, filhos de docentes ou de funcionários ou de alguém com “capacidade” para influenciar a definição da turma para o seu filho. Nada de novo portanto.
A questão central coloca-se em dois patamares, a eficácia e o impacto nos alunos. Vamos por partes. A experiência e os estudos realizados sobre estas questões mostram que se os “bons” continuam bons os “maus” também continuam maus, apenas deixam, crê-se, de atrapalhar o trabalho dos bons. O trabalho dos maus, sendo nivelado por baixo introduz um tecto nas aprendizagens que inibe um percurso do mesmo tipo e qualidade que o dos bons mesmo que sejam bem sucedidos, o que não acontece na maioria dos casos. Nós aprendemos mais e melhor com quem sabe mais que nós. O povo diz que “junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que eles”.
Quanto ao impacto, parece óbvio que a diversidade é sempre preferível a uma falsa homogeneidade. As atitudes de discriminação negativa não apresentam nenhuma espécie de vantagem pessoal ou social, guetizam, estigmatizam e promovem quer nos bons, quer nos maus, uma relação desconfiada e tensa facilitadora de problemas.
As dificuldades escolares gerem-se com apoios e recursos que terão certamente de ser diferenciados mas não podem, não devem, implicar a criação de reservas para os “maus”.
Se não for a escola, a educação, a promover equidade de oportunidades e a combater a exclusão não restará nada nem ninguém que o faça.
Ao que o trabalho jornalista também adianta, alguns pais, quer de bons alunos, quer dos menos bons, contestam a medida por a considerarem discriminatória recorrendo até a expedientes como o atestado médico para tentar travar a colocação dos seus filhos nas respectivas turmas.
Em primeiro lugar, convém ser claro, turmas constituídas com base no rendimento escolar, no comportamento ou na origem social e familiar, não são raras nas nossas escolas, é do conhecimento da tutela que tolera o procedimento, as escolas têm autonomia nesta matéria. Sabemos todos de turmas maioritariamente constituídas por repetentes ou oriundos de alguns bairros, bem como, pelo contrário, turmas maioritariamente constituídas por bons alunos, filhos de docentes ou de funcionários ou de alguém com “capacidade” para influenciar a definição da turma para o seu filho. Nada de novo portanto.
A questão central coloca-se em dois patamares, a eficácia e o impacto nos alunos. Vamos por partes. A experiência e os estudos realizados sobre estas questões mostram que se os “bons” continuam bons os “maus” também continuam maus, apenas deixam, crê-se, de atrapalhar o trabalho dos bons. O trabalho dos maus, sendo nivelado por baixo introduz um tecto nas aprendizagens que inibe um percurso do mesmo tipo e qualidade que o dos bons mesmo que sejam bem sucedidos, o que não acontece na maioria dos casos. Nós aprendemos mais e melhor com quem sabe mais que nós. O povo diz que “junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que eles”.
Quanto ao impacto, parece óbvio que a diversidade é sempre preferível a uma falsa homogeneidade. As atitudes de discriminação negativa não apresentam nenhuma espécie de vantagem pessoal ou social, guetizam, estigmatizam e promovem quer nos bons, quer nos maus, uma relação desconfiada e tensa facilitadora de problemas.
As dificuldades escolares gerem-se com apoios e recursos que terão certamente de ser diferenciados mas não podem, não devem, implicar a criação de reservas para os “maus”.
Se não for a escola, a educação, a promover equidade de oportunidades e a combater a exclusão não restará nada nem ninguém que o faça.
Não é fácil. A inclusão, a justiça, a igualdade, blá, blá,... onde está? A escola é o reflexo da sociedade, ou é a sociedade que é reflexo da escola?
ResponderEliminarEu sou a favor da inclusão, por exemplo, por cada duas familias do Restelo, o governo devia reservar uma casa para uma familia da cova-da-moura. Começava-se pela inclusão social, e depois, reflectia-se isso na escola. Na escola dos meus filhos, cada turma de bons alunos, tem 2-3 repetentes que continuam na escola por imposição legal. Os miudos não se enquadram: Para os mais velhos, os mais novos são criancinhas e betos. Para os mais novos, os mais velhos são arruaceiros, fumam na sala, gozam com os Stôres, e só trazem castigos para a turma...
Não é por imposição ou decreto que se promove a inclusão!
... mas experiências pedagógicas precisam-se, com avaliações capazes, precisam-se. Como se precisa de uma escola que cultive interesses (se um miudo não gosta de estudar, porque não propor-lhe um ensino técnico?: ah, mas isso é para trabalhar na mecanica, os nosso filhos têm que se todos Stôres!)
O zé, mas eu sou a favor da inclusão social. Será que me posso candidatar à moradia de inclusão no Restelo?
P.S: Ah, também tenho a mista história de inclusão. Posso partilhá-la?
ResponderEliminarHá muitos, muitos anos atrás, não em Setembro, mas já em Novembro, sim, porque naquela altura as aulas começavam em Outubro nas escolas da cidade grande, e na provincia, começavam quando os professores eram colocados, às vezes em Novembro, às vezes em Dezembro, e as aulas de Matemática, às vezes em Janeiro. Naquela altura não havia 40000 professores não colocados... e tudo o que era finalista de Engenharia conseguia ganhar uns trocos a leccionar Matematica.
Mas, dizia, eu... fui, por esta altura, para o ciclo, com 10 anos... era o puto mais novo da turma, os meus colegas tinham 12, 13, 14, 14, 14, 15... etc...Como era o mais novo e o mais franzino, ficava sem os cadernos, borrachas, lápis, e ainda ganhava uns tabefes se tivesse a ousadia de enfrentar os mais velhos...Chegava a casa e ouvia de novo, porque não era possivel gastar 5 lápis Viarco, numa unica semana.
Até que um belo dia, sem conseguir controlar o medo de mais uns tabefes, tive que contar ao meu irmão mais velho. Também ele com 15 anos e numa turma do antigo 4º ano, onde os colegas eram todos mais velhos ou da mesma idade. Pois bem, o meu irmão mais velho, e os amigos, fizeram uma visita à minha turma. Depois de uns enpurrões e uns apertos de colarinhos, passei a ser o gajo mais "baril" e popular da turma. Até me pediam ajuda nos TPC de Matemática. Só podia, não era?! Com todos aqueles amigos mais velhos...
... Desde esse tempo fantásticos de transição da primária (escola das crianças) para o ciclo (escola dos gandins) que sou fã da inclusão.
Hoje no meu trabalho, continuo fã da inclusão, especialmente da inclusão daqueles colegas, que acham que os putos novos é que tem que fazer tudo (inclusivé, limpar a bosta que os mais velhos fazem). Que pena não ter um irmão mais velho aqui no serviço também.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarApenas escrevi que separar os miúdos não torna os "maus" gente melhor. Se se entender que separá-los é o caminho, então o destino vai ser mesmo nós os bons, guetizados em condomínios bem seguros com a escola, o emprego e o spa lá dentro e o mundo e a rua entregue aos "descamisados".
ResponderEliminarÉ uma opção.
Senhor professor, permita-me que comente através de um dos poemas de Bertold Brecht:
ResponderEliminarPrimeiro, vieram e levaram os alunos com deficiência.
Mas eu não me importei, porque até acho que eles estariam melhor em casa ou em instituições próprias.
Depois, vieram e levaram as crianças ciganas.
Mas eu também não me importei, porque até acho que a etnia cigana é estruturalmente avessa à escola.
Depois vieram e levaram os filhos dos imigrantes.
Mas, por que me havia eu de importar, se até acho
que a escola portuguesa, a eles, nada lhes diz?...
Mais tarde, levaram os filhos dos trabalhadores.
Mas eu tão pouco me importei.
Sou daqueles que pensam que este País tem doutores a mais.
Depois… bom, depois… fecharam a minha escola.
Os poucos alunos que ainda tinha preferiram o colégio ali ao lado.
E eu só dei conta, quando me chamaram para me dizer:
"és um incompetente! Estás despedido!"
E, quando percebi, já era tarde de mais.
Parabéns pelo seu artigo e um grande bem-haja!
Mariana Emídio
Para o "anónimo" que não eu:
ResponderEliminarUma turma que tem alunos de 10 anos e alunos de 15 anos é uma turma mal estruturada em termos de compatiblidade de idades, precisamente pelas razões que evidenciou. Diversidade sim, mas uma diversidade coerente. Alhos com bugalhos não. As ciências da educação não estão aqui a brincar às experiências meu amigo.
Para o "anónimo2": "As ciências da educação não estão aqui a brincar às experiências meu amigo".
ResponderEliminarAi não? então andam a quê? Onde estão as experiências da inclusão? ondes estão os resultados da inclusão?
Inclusão? Qual inclusão?
Colocar alunos com dificuldades (os tais "maus" alunos) numa turma onde os miúdos são excluidos pelos outros que são bons, ou se excluem porque não misturam com os "putos" é o quê?
Quem define estas politicas de inclusão? Ou "inclui-se" para evitar os professores de apoio, que apoiem, que motivem, que cultivem a autoestima dos miudos, que de uma forma ou outra "ficaram para trás"? e pelo contrário se "inclui" para que o professor com 30 alunos, passe a ter uns 3 ou 4 problemáticos e não consiga dar atenção a nenhum dos 30?
Ah, mas poupa-se nos salarios dos professores de apoio, e promove-se estas politicas de inclusão, que agora, passaram a ser de igualdade...
Se o Sr. Professor tem intervenção nesta inclusão,..., Só podemos estar a falar de nabos e tomates.
obrigado, porém, por me considerar seu "amigo"...
Mariana: obrigado pelo poema de Bretch. Não conhecia, só conhecia este de Martin Niemöller:
First they came for the communists, and I did not speak out—because I was not a communist;
Then they came for the socialists, and I did not speak out—because I was not a socialist;
Then they came for the trade unionists, and I did not speak out—because I was not a trade unionist;
Then they came for the Jews, and I did not speak out—because I was not a Jew;
Then they came for me—and there was no one left to speak out for me