AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A DIGNIDADE AMEAÇADA

Como todos reconhecemos, a tragédia do desemprego é face mais tenebrosa da crise. A previsão da OCDE estimando que Portugal terá 650 000 desempregados em 2010 é algo que deveria suscitar a necessidade de estabelecer, não gosto do termo, uma espécie de pacto de regime sobre a melhor forma de lidar com esta situação e minimizar os seus efeitos. Já aqui me referi a um lado oculto e menos abordado do desemprego, os efeitos na dinâmica familiar. Na maioria dos casos um desempregado tem atrás de si uma família que não pode deixar de sentir os efeitos da situação. Nem sequer refiro situações em que mais do que um dos elementos está no desemprego, quadro relativamente frequente em meios mais pequenos em que os poucos empregadores locais absorvem famílias inteiras.
Sendo certo que alguns passos positivos são dados no âmbito das chamadas políticas sociais, também se sabe que existem milhares de desempregados sem acesso a subsídio de desemprego o que, obviamente, complica a situação, colocando-a no limite da sobrevivência e da dignidade.
Choca-me que muitos comentários a esta situação, quer por parte dos opinadores anónimos, quer dos opinadores encartados, políticos incluídos, se centrem na utilização deste drama como arma de arremesso na medíocre luta político-partidária em que a partidocracia instalada transformou a vida política nacional. Esta utilização representa, do meu ponto de vista, o definitivo ataque à dignidade já ameaçada dos homens e das mulheres sem emprego. Choca-me ainda que se questione a necessidade de políticas sociais.
Se houvesse pudor ético e verdadeiro interesse no bem-estar dos cidadãos, esta situação exigiria que as elites políticas e económicas fossem capazes de estabelecer um conjunto de princípios e de programas que contribuíssem para minimizar os efeitos do desemprego. Não sou ingénuo e sei que é difícil, mas também sei, como se provou pelos acontecimentos dos últimos anos, não se pode confiar exclusivamente ao mercado a regulação do trabalho, por isso, as políticas sociais garantes de dignidade para todos são, serão, imprescindíveis. E sobre isto teríamos que nos entender.

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