O JN faz hoje a primeira página com uma manchete que me deixou perplexo e preocupado. Titula o jornal que, “Crianças maltratadas perdoam agressores”. Já vamos ao motivo da perplexidade e da preocupação, antes, o enquadramento.
O título decorre dos resultados de um trabalho de investigação interessante e desejável, realizado no norte do país, envolvendo 60 crianças, dos seis aos dezasseis anos que terão sido objecto de negligência e maus-tratos e do qual são referidas algumas conclusões que não surpreendem, pois vão ao encontro dos resultados verificados em estudos da mesma natureza. Em termos sintéticos, pode dizer-se que as crianças percepcionam os adultos agressores com autoridade e poder para as castigarem, muitas vezes sentem-se culpadas, pois se sofrem castigos é porque serão merecedoras e, por isso, se sentem mal e percebem a “razoabilidade” dos castigos. A cultura ainda prevalente em muitos agregados familiares é facilitadora dos maus-tratos a crianças tal como os casos de violência sobre as mulheres, as relações familiares configuram autoridade e “posse” discricionária levando a que as vítimas escondam e entendam que existe poder e razão para os “castigos”.
Sendo verdade este quadro, agora o porquê da perplexidade e da preocupação, parece-me completamente abusivo afirmar-se que as crianças “perdoam” aos agressores. A capacidade de perdoar exige um nível de juízo moral, racional e ético que torna muito difícil que se possa utilizar o termo perdão em crianças e nestas circunstâncias. Não as crianças, enquanto crianças, não “perdoam” a quem as fere, por vezes, para sempre. Fiquei ainda preocupado pois, apesar de não intencional, a ideia em primeira página de que as crianças perdoam os maus-tratos aos agressores pode funcionar como uma espécie de branqueamento moral e social de uma situação gravíssima e inaceitável.
O título decorre dos resultados de um trabalho de investigação interessante e desejável, realizado no norte do país, envolvendo 60 crianças, dos seis aos dezasseis anos que terão sido objecto de negligência e maus-tratos e do qual são referidas algumas conclusões que não surpreendem, pois vão ao encontro dos resultados verificados em estudos da mesma natureza. Em termos sintéticos, pode dizer-se que as crianças percepcionam os adultos agressores com autoridade e poder para as castigarem, muitas vezes sentem-se culpadas, pois se sofrem castigos é porque serão merecedoras e, por isso, se sentem mal e percebem a “razoabilidade” dos castigos. A cultura ainda prevalente em muitos agregados familiares é facilitadora dos maus-tratos a crianças tal como os casos de violência sobre as mulheres, as relações familiares configuram autoridade e “posse” discricionária levando a que as vítimas escondam e entendam que existe poder e razão para os “castigos”.
Sendo verdade este quadro, agora o porquê da perplexidade e da preocupação, parece-me completamente abusivo afirmar-se que as crianças “perdoam” aos agressores. A capacidade de perdoar exige um nível de juízo moral, racional e ético que torna muito difícil que se possa utilizar o termo perdão em crianças e nestas circunstâncias. Não as crianças, enquanto crianças, não “perdoam” a quem as fere, por vezes, para sempre. Fiquei ainda preocupado pois, apesar de não intencional, a ideia em primeira página de que as crianças perdoam os maus-tratos aos agressores pode funcionar como uma espécie de branqueamento moral e social de uma situação gravíssima e inaceitável.
Parece-me de uma pequenez moral, os "grandes" afirmarem que as crianças perdoam a quem as maltrata...
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