AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CHORA ELA E CHORO EU

A imprensa de hoje refere-se a um trabalho de Maria José Araújo da Universidade do Porto sobre os trabalhos de casa. Muitas vezes me tenho referido a esta matéria aqui no Atenta Inquietude. Voltemos ao assunto, com a legislação em vigor as crianças, por exemplo do 5º e 6º ano, podem passar na escola cerca de 11 horas por dia na escola, 55 horas por semana. É extraordinário, quando a semana de trabalho para os adultos anda entre as 35 e as 40 horas. Acresce que, em muitas circunstâncias ainda tem Trabalhos Para Casa que, nas mais das vezes, são a continuação ou a réplica de trabalhos escolares.
Não tenho nenhuma posição fundamentalista sobre os TPC mas creio que deve distinguir-se com clareza o TPC e o Trabalho Em Casa. O TPC é trabalho da escola feito em casa, o trabalho em casa será o que as crianças podem fazer em casa que, não sendo tarefas de natureza escolar, pode ser um bom contributo para as aprendizagens dos miúdos. O que acontece mais frequentemente, como o trabalho de Maria José Araújo mostra, é que estamos em presença de TPC e não Trabalho Em Casa. Os TPCs clássicos têm ainda o problema acrescido de colocar os pais, muitas vezes, em situações embaraçosas de quererem ajudar os filhos e não possuírem habilitações para tal. A propósito, numa reunião de pais em que eu estava e se discutia esta questão, dizia uma mãe, “o senhor, da maneira que fala, se calhar é capaz de ajudar o seu filho, mas na minha casa, chora a minha filha e choro eu, ela porque quer ajuda, eu porque não sou capaz de lha dar.” Colocar os pais nesta posição é absolutamente inaceitável.
Torna-se, pois, necessário que professores e escolas se entendam sobre esta matéria, diferenciando trabalho de casa, igual ao da escola, de trabalho em casa, trabalho em que qualquer pai e se pode envolver e é útil.
Se mesmo assim houver a tentação do trabalho de casa, deveria estar assegurado que a criança tem capacidade e competência para o realizar autonomamente, por exemplo, o treino de competências adquiridas. Mas, sobretudo nas idades mais baixas, o bom trabalho na escola dispensa o TPC, é uma questão de saúde.

2 comentários:

  1. Os trabalhos em casa ou para casa são úteis para consolidar conhecimentos ou envolver os pais, mesmo que estes não saibam ou não possam ajudar os filhos.
    É muito mais importante para uma criança saber que tem um adulto que se interessa pelo que faz, do que ter o mesmo adulto a proporcionar-lhe respostas directas ou todos os meios e nenhuma atenção.
    Não conheço nenhum professor (pelo menos dos meus filhos) que considere os TPC obrigatórios ou que os penalize por não os fazer.
    Quanto ao tempo que passam na escola, é preciso distinguir entre o tempo lectivo real e o resto - este "resto" é que é preciso analisar bem, porque são ATL's, actividades extra-curriculares...
    E ainda sobre tempo, quando andei na escola o tempo de aulas não era menos do que agora, os meus pais têm a escolaridade minima e pouco me podiam ajudar, mas interessavam-se. E, tal como eu, os meus filhos têm tempo para tudo - apenas sabem que nada vem sem esforço.

    "Penso eu de que", como dizia o outro :))

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  2. Certíssimo companheiro,

    O problema essencial é a qualidade da escola, não a sua quantidade

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