AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ÉS O QUE TENS

Como seria de esperar, passada a acalmia pascal, regressámos à crise. Segundo o JN, os serviços de pediatria do Hospital Amadora-Sintra estão a registar cada vez mais casos de crianças que chegam às consultas mal alimentadas, quando não com fome, pouco cuidadas e, muitas delas, com roupa e ténis de marca. Este cenário retrata de forma elucidativa a crise em várias dimensões. Em primeiro lugar, naturalmente, as dificuldades económicas que muitas famílias atravessam, sobretudo, em situações de maior vulnerabilidade, como é caso de famílias monoparentais. Em segundo lugar, muitos destes casos configuram alguma negligência face às crianças que, não surpreendendo, é sempre preocupante, veja-se também o número revelado nos últimos dias de crianças abandonadas pelas famílias ou devolvidas depois de adoptadas. Em terceiro lugar, a inversão do sistema de valores, ou seja, a criança pode estar mal ou insuficientemente alimentada e cuidada mas não pode deixar de usar a roupa e os ténis da marca que está na moda. Esta pressão, assumida pelas próprias crianças e desenvolvida por nós adultos, assenta na ideia de “és o que tens”, isto é, sem ter a roupa de marca, não se é, porque todos têm. Os tempos vão difíceis mas também estranhos.
Por falar em crise, não me venham com a ideia de que se trata de discurso demagógico e populista, em 2008, os seis administradores da GALP ganharam 4 milhões de euros mais uma ajudinha de 90 000 € para cada um para os seus PPRs. Entre os administradores está o Dr. Fernando Gomes, ex-presidente da Câmara do Porto, ex-ministro da Administração Interna, actual boy e, desde sempre, um reputadíssimo especialista na área do petróleo.

1 comentário:

  1. A Humanidade vive realmente tempos estranhos... Como sempre. "Ter é ser" é um dos lemas em que crescemos. Conquistar, lutar, ganhar por nobres causas do ponto de vista do lutador, eternamente questionável. Mas no fundo é tudo apenas emprestado, até a areia da praia. Cabe-nos deixar a melhor pegada possível e indicá-la aos que nos seguem, antes que chegue mais uma onda.

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