AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

QUE 2009 NOS TRAGA (II)

Nesta circunscrita tentativa de perceber os anseios do Portugal que cabe no meu bairro, aqui ficam mais alguns registos.
O Sr. Silva, empregado bancário. “Com estas coisas que estão a acontecer com o banco o meu desejo é que não sobre para mim. Os grandes é que se orientam e os pequenos, como eu, é que ouvem as pessoas e ainda podemos ficar sem emprego, eles ficam sempre bem. Vamos a ver se isto se compõe.”
O Joca, aluno da C+S, que até nem é dos piores (não faz filmes com o telemóvel dentro da sala de aula para pôr no You Tube). “Meu, havia de se resolver aquela cena dos setores com a ministra. Pá, preciso de me safar no 9º, pá queria continuar a estudar mas dizem que o people com curso não arranja empregos. Pá, agora tá-se bem, mas depois, não sei, tás a ver.”
D. Manuela, professora em guerra com a ministra. “Olhe, nunca pensei, depois de uma vida dedicada às crianças só quero que me dêem a reforma que já solicitei. Tenho pena de quem ficar, mas para mim acabou-se. Saio com muita pena e revoltada com a ministra, tratou-nos muito mal”.
A Lina, como diz o Cajó, gaja boa todos os dias. “O meu grande sonho para 2009 é que me chamem para um casting em que me inscrevi para uma novela, da TVI. Já fui uma vez ao programa do Sr. Goucha e disseram-me que tenho muito jeito para a televisão”.
A D. Júlia, velhota só e residente na sala de espera do Centro de Saúde. “Olhe, na minha idade já queremos pouca coisa. Precisava de um aumentozinho na pensão que mal chega para os medicamentos que são muitos, e que pudesse mexer-me sozinha para poder vir à consulta, é que eu sou uma pessoa muito doente”.
O Sr. Lopes, pessoa que acredita. “Os meus votos para 2009 é que haja muita saúde para todos, que os partidos se entendam para que os nossos governantes façam um bom trabalho. Eu acho que se todos dermos as mãos o país vai para a frente”.
O Sr. Óscar, protestante compulsivo. “Para 2009 eu queria é que estes gajos todos fossem dar uma curva. Não há nada de jeito, ninguém faz nada, é cada um por si. Olhe aqui para o bairro, vê alguma coisa boa? Nada. O pessoal quer é encher-se, só a mim não me toca nada, eu bem jogo no euromilhões, mas nem aí ganho nada, ganda cambada”.
A D. Teresa, pessoa deprimida. “Os meus desejos para 2009? Olhe, para lhe dizer a verdade, nem ligo nada à passagem de ano. Às 10 horas meto-me na cama, eu não tenho cabeça para estas coisas. A vida é muito difícil, não paro de pensar nela mas não melhora nada, é o destino, cada um é para o que nasce”.
Já agora o meu desejo.
Que o ano vos seja leve.

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