AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A MEDIDA DO TEMPO

Professor Velho, toda a gente mede o tempo com o relógio?
Não Manel, ninguém mede o tempo com o relógio. O relógio só serve para organizar as pessoas, todas as pessoas, dentro do tempo. Medir o tempo é diferente, cada pessoa mede o tempo à sua maneira.
Não percebo, Velho.
Quando estás a ler um livro de que gostas muito, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, a gente quer ler sempre mais.
Quando estás a ler um livro de que não gostas, mas tens que ler, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, nunca mais chega ao fim.
Quando estás na aula de que gostas mais, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, acaba num instante.
Quando estás na aula de que gostas menos, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, nunca mais acaba.
Quando estás com os amigos de que gostas mais, o tempo é grande ou pequeno?
É pequeno, dura sempre pouco.
Quando estás com pessoas de que não gostas, o tempo é grande ou pequeno?
É grande, Velho, nunca mais me safo delas.
Como vês, Manel, o coração é que mede o tempo, o relógio só organiza as pessoas no tempo. Agora, vai almoçar que a manhã está no fim.
Já Velho? Passou mesmo depressa.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oiço o Professor Velho a falar do tempo e não posso deixar de transcrever um excerto de "PAPALAGUI,Comentários de Tuiávii, chefe da tribo nos Mares do Sul" que nunca me cansarei de ler.
    "O Papalagui nunca está satisfeito com o tempo que tem; e acusa o Grande Espírito por não ter lhe dado mais. Chega a blasfemar contra Deus, contra a sua grande sabedoria, dividindo e subdividindo em pedaços cada dia que se levanta de acordo com um plano muito exacto. Divide o dia, tal qual um homem partiria um côco mole com uma faca em pedaços cada vez menores. Todos os pedaços têm nome: segundo, minuto, hora. O segundo é menor do que o minuto, este é menor do que a hora; juntos, minutos e segundos formam a hora e são precisos sessenta minutos e uma quantidade maior de segundos para fazer o que se chama hora.(...)
    Só consigo entender isso pensando que se trata de doença grave. " O Tempo voa! "; " O Tempo corre feito um corcel! "; " Dêem um pouco mais de tempo": são as queixas do Branco.
    Digo que deve ser uma espécie de doença porque, supondo que o Branco queira fazer alguma coisa, que seu coração queime de desejo, por exemplo, de sair para o sol, ou passear de canoa no rio, ou namorar sua mulher, o que acontece? Ele quase sempre estraga boa parte do seu prazer pensando, obstinado : " Não tenho tempo de me divertir ". O tempo que ele tanto quer está ali, mas ele não consegue vê-lo. Fala em uma quantidade de coisas que lhe tomam o tempo, agarra-se, taciturno, queixoso, ao trabalho que não lhe dá alegria, que não o diverte, ao qual ninguém o obriga se não ele próprio. Mas, se de repente vê que tem tempo, que o tempo está ali mesmo, ou quando alguém lhe dá um tempo - os Papalaguis estão sempre dando tempo uns aos outros, é uma das acções que mais se aprecia - aí não se sente feliz, ou porque lhe falta o desejo, ou está cansado do trabalho sem alegria. E está sempre querendo fazer amanhã o que tem tempo para fazer hoje."

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