Ontem, participei numa conversa com pais a propósito daquilo a que costumo chamar “trabalho de pai”, ou seja, a educação dos filhos. Como todos sabemos não é um trabalho fácil, O tempo do emprego, o tempo das deslocações, o tempo dentro da gente, o tempo da disponibilidade não ajudam. De uma forma geral, a vida dos miúdos acompanha este tempo. Ou ficam tempos infindos na escola, correndo sérios riscos de intoxicação e, posterior, rejeição, ou, noutra modalidade, correm de tarefa em tarefa numa desesperada tentativa de lhes encher, ocupar, dizem, o tempo. A discussão andou durante um tempo sobre este problema do tempo dos miúdos.
Fiquei satisfeito quando alguns pais expressaram veementemente a preocupação com o facto de os miúdos não terem tempo para brincar. Esta preocupação já nem parece deste tempo, um tempo em que tudo tem que ser “a sério” na busca da excelência e sem tempo a perder com brincadeiras.
Fiquei satisfeito quando alguns pais expressaram veementemente a preocupação com o facto de os miúdos não terem tempo para brincar. Esta preocupação já nem parece deste tempo, um tempo em que tudo tem que ser “a sério” na busca da excelência e sem tempo a perder com brincadeiras.
É verdade, na ânsia de darem o melhor aos seus filhos, eventualmente tudo aquilo que eles nunca chegaram a ter, os pais desdobram-se em ginásticas quase impossíveis para irem buscar os meninos à escola, levarem-nos ao balé, depois ao inglês, e aos escuteiros,e ao judo e a mais não sei quantas actividades... E finalmente, quando chegam a casa, não há tempo para mais nada. Dar banho às crianças, fazer o jantar comido à pressa, fazer os trabalhos de casa que não houve tempo de fazer por causa das ATL e... cama. Para no dia seguinte, pais e filhos acordarem para mais um dia de intenso vai-vem, traz-e-leva, leva-e-traz. Não há tempo para os pais conversarem com os filhos, não há tempo para os pais falarem um com o outro, não há tempo para namorarem, não há tempo para o tempo.
ResponderEliminarPara agravar a situação, as crianças já nem podem contar com os "furos", aquelas brechas fantásticas no ram-ram de um dia de trabalho, quando um professor faltava. Nunca mais se ouviu à porta das salas de aula o "Viva!" colectivo ao som do toque de tolerância. Porque, agora, quando um professor falta, vem outro professor substitui-lo. Um qualquer, que vem contrariado e que é recebido também de má vontade. Acabou-se a possibilidade de ir buscar uma bola ao ginásio para um joguinho rápido, ou de ir até ao bar da escola, à biblioteca, ou simplesmente de ir até ao pátio para dois dedos de conversa ou mesmo de namoro num dos bancos de pedra. Quem não recorda com saudade esses "furos" inesperados? São recordações que as crianças de hoje nunca terão, porque cada vez menos lhes é reconhecido o direito de brincarem.