AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O CÃO QUE NÃO QUERIA TER UM DONO

Era uma vez um cão que não queria ter dono. Também não queria ser um cão vadio, perdido. Queria ser apenas um cão sem dono. Ele imaginava que se tivesse um dono haveria de ter uma trela e, assim, não poderia andar por onde gostava. Também achava que, tendo um dono, teria uma casa pequena, sem porta, onde mal se mexia em vez de encontrar abrigos diferentes ou visitar casas de pessoas diferentes. Se tivesse um dono teria, provavelmente, horários apertados e bem definidos para comer, dar uma volta (à trela, claro), alçar a perna e até, quem sabe, cruzar-se com uma eventual namorada a quem o dono certamente não permitiria dedicar mais do que um olhar. Se tivesse um dono, provavelmente comeria sempre comida de cão enlatada, toda com o mesmo sabor, e tomaria um banho forçado e à vontade do dono, claro. Se o dono não tivesse filhos não poderia brincar com putos. Teria que fazer apenas as brincadeiras permitidas pelo dono. E teria que aprender umas habilidades parvas como sentar-se, deitar-se, dar a pata, etc. para o dono mostrar aos amigos como o seu cão é inteligente. Ah, também não poderia dar uma corrida atrás dos gatos. Não, definitivamente ele não queria ter um dono.
De repente, o som do despertador acordou o homem que se levantou, cumpriu todas as suas rotinas em casa e foi à sua rotina, perdão, à sua vida. De cão.

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