AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 23 de março de 2008

10 NOTAS SOBRE O INCIDENTE DO TELEMÓVEL

Permitir que um telemóvel toque na sala de aula é indisciplina, Insultar, humilhar, confrontar fisicamente uma professora é um comportamento pré-delinquente ou delinquente. Andou mal a Ministra ao falar de indisciplina.
A indisciplina escolar é matéria de competência da escola e matéria de responsabilidade de toda a comunidade, incluindo os pais, naturalmente, e todas as figuras com relevância social, por exemplo, não se riam, políticos e jogadores de futebol.
A pré-delinquência e delinquência entre crianças e jovens são um problema da comunidade de que a escola é PARTE da solução mas não A solução.
O Estatuto do Aluno, qualquer que seja, é um regulador, melhor ou pior, mas nunca A solução e, pela mesma razão, nunca A causa.
Todas as figuras sociais a que se colam traços de autoridade, por exemplo, pais, professores, médicos, polícias, idosos, etc. viram alterada a representação social sobre esses traços. Dito de outra maneira, o facto de ser velho, polícia, professor ou médico, já não basta, só por si, para inibir comportamentos de desrespeito.
Do anterior resulta que, falar da restauração da autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma razão não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se processava antigamente.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais competente se sentir. A grande questão da avaliação dos professores deveria ser entendida como ferramenta do seu desenvolvimento profissional. É também importante reajustar a formação de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais apoiado se sentir. O Ministério da Educação não pode desenvolver políticas que socialmente deixem o professor desapoiado. As escolas devem poder usar a sua autonomia para desenvolver dispositivos de apoio, por exemplo, a existência de outros técnicos e a utilização regular de dois professores em sala de aula. Não é necessário aumentar o número de professores, é imprescindível que os recursos sejam geridos de outra maneira.
Escolas organizadas, com cultura institucional sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas habita, como qualquer outra organização.
A repetição ad nauseam do vídeo “A luta pelo telemóvel”, os discursos avulsos de responsabilização e a utilização do incidente para política de baixo nível é o pior serviço que se pode prestar à nossa educação cívica.

Sem comentários:

Enviar um comentário