AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 13 de julho de 2016

DAS FAMÍLIAS INFELIZES

Escreveu-se mais um capítulo desta narrativa. O Tribunal de Sintra decidiu agora que as crianças retiradas há mãe em 2012 possam começar a visitá-la em casa. No fim da visita voltam às instituições enquanto se aguarda uma nova decisão que reconstrua uma família, um bem de primeira necessidade na vida dos miúdos.
Recordemos a história, começando pelos últimos passos. Em Junho o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que o processo iniciado em 2012 no tribunal de Sintra com a decisão de retirar a uma mãe sete dos dez filhos que foram institucionalizados fosse reaberto.
No início deste ano o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem aconselhou as autoridades portuguesas a reexaminarem o processo e a pagarem uma compensação à mãe das crianças.
É ainda importante relembrar que o Tribunal Constitucional já tinha decidido que o processo continha inconstitucionalidades e o próprio Supremo Tribunal de Justiça já tinha decidido desfavoravelmente à mãe em duas ocasiões.
Entretanto, as crianças têm actualmente entre quatro e 11 anos e vivem em instituições de acolhimento desde 2012. Absolutamente inaceitável.
Em 2012 a decisão do Tribunal de Sintra no sentido de retirar as sete crianças e encaminhá-las para adopção foi sustentada pelas dificuldades económicas da família e pelo não cumprimento de algumas das medidas previstas no processo de protecção de menores que envolve esta família.
Parece relevante acentuar que não existiam relatos de maus-tratos e que uma das medidas impostas no acordo e não cumpridas pela família, seria a prova por parte da mãe de que estaria em apoio hospitalar para laqueação das trompas. O tribunal sublinhou que a mulher persistiu na rejeição de tal intervenção.
Como é evidente e creio que deve ser considerado, a comunidade, através das diferentes entidades e instituições que intervêm neste universo, tem a obrigação de proteger as crianças de negligência e maus-tratos, nenhuma dúvida sobre isso, trata-se do superior interesse da criança, tantas vezes esquecido. Quero dizer com isto que não discuto, não tenho informação suficiente, a bondade da retirada das crianças à família, embora entenda, como a generalidade das pessoas, que esta deva ser sempre uma medida de fim de linha a que se recorre depois do insucesso de outras abordagens.
No entanto, não estava comprovada a existência de maus-tratos e estas crianças vivem estra tragédia desde 2012. Com que consequências? Que responsabilidades?
Recordo a ideia de Tolstoi em “Anna Karenina”, “as famílias felizes parecem-se todas. As famílias infelizes, cada uma é-o à sua maneira”.
Mais difícil, mas ainda mais importante se torna estarmos atentos.

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