domingo, 7 de novembro de 2021

DESCAMINHO

 Nos últimos dias e a propósito do sórdido episódio que envolve João Rendeiro e do desaparecimento de obras de arte que estavam à guarda da mulher do fugitivo, surgiu a referência ao “descaminho”. Maria de Jesus Rendeiro estará a ser acusada do crime de “descaminho”.

Confesso que não conhecia o crime de descaminho, mas lembro-me de quando era pequeno ser muitas vezes avisado para não dar descaminho às coisas, às ferramentas do meu pai ou às coisas que me davam, por exemplo. Há muito tempo que não ouvia o termo.

No entanto, a verdade é que vivemos num tempo com muitos descaminhos.

Ainda vivemos um tempo de pandemia que deu descaminho a muitas das nossas rotinas e provocou danos pesados e muitos sem retorno, muitas vidas em descaminho.

Atravessamos tempos políticos que mais parecem mostrar descaminhos que construir caminhos.

Muitos jovens à procura de caminhos para o futuro e tropeçam em descaminhos.

Entre os mais novos existem demasiadas situações em que por descaminho das famílias lhes falta um céu protector que ilumine caminhos.

São múltiplos os descaminhos que em muitos sectores das políticas públicas se encontram e que criam outros descaminhos em direitos básicos de cidadania.

São preocupantes os descaminhos associados a pobreza e exclusão. São muitas as crianças que nascem e crescem num descaminho relativamente ao futuro.

Não queria que estas notas fossem percebidas como uma visão pessimista, trata-se uma inquietação, entre os muitos caminhos existem muitos descaminhos.

1 comentário:

Mosaicos em Português disse...

Existem, de facto, muitas formas de descaminho. O descaminho governativo, com base no facilitismo, relativamente à nobre missão de quem ensina - designadamente os mais jovens - será, talvez, um dos mais graves, dados os danos irreversíveis que gera e se prolongam por muitas gerações.
Os inenarráveis acontecimentos que levavam à fuga de João Rendeiro serão mais completamente entendidos se pudermos basear-nos numa cronologia, como a que publiquei em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/11/rendeiro-no-rescaldo-de-uma-fuga.html, cuja consulta proponho, bem como a leitura da análise aprofundada que sobre ela faço.
É que todo este triste episódio tem, parece-me, razões profundas que operam, não apenas na menor qualidade da magistratura judicial, como, de um modo geral, em todas as áreas de atividade.
Votos de um bom Domingo.