domingo, 31 de maio de 2015

DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIREITOS HUMANOS

A maioria das escolas regulares tem falta de recursos para as crianças com necessidades especiais, alertou hoje o Observatório da Deficiência, apontando que, quando os recursos não chegam ou tardam, é o futuro educativo destas crianças que fica comprometido.


(aos 12m 50s do Jornal 2)
Na verdade, a educação inclusiva não decorre de uma moda ou opção científica, é matéria de direitos pelo que deve ser assumida através das políticas e discutida na sua forma de operacionalizar. Aliás, poderá afirmar-se, citando Biesta, que a história da inclusão é a história da democracia, a história dos movimentos que lutaram pela participação plena de todas as pessoas na vida das comunidades, incluindo, evidentemente a educação.
Nesta perpectiva, os tempos que vivemos são tempos de exclusão, de competição, de desregulação ética e de oscilação de valores que atingem, evidentemente, os mais frágeis, caso das crianças e jovens com necessidades educativas especiais e as suas famílias.
As políticas educativas em curso são particularmente inquietantes deste ponto de vista. Numa política educativa de selecção, "darwinista", para os mais "dotados" os que conseguem sobreviver, a presença de alunos com necessidades especiais só atrapalha. Assim sendo, colocam-se duas hipóteses, ou se mandam embora da escola de volta às instituições a quem se vai garantindo uns apoios, a diminuir evidentemente, para que por lá mantenham estes alunos, sobretudo adolescentes e jovens ou, segunda hipótese e mais barata, nega-se de forma irresponsável e administrativa sua condição de alunos com necessidades especiais, "normalizam-se" e passam a ser tratados como todos os outros alunos e espera-se que a selecção e a iniciativa das famílias leve os meninos que atrapalham para fora da sala de aula, primeiro, e para fora da escola, depois.

TODOS BATEM NOS PROFESSORES

Com temos dado conta as notícias sobre agressões a professores, designadamente cometidas por encarregados de educação, vão chegando com alguma frequência à comunicação social. De novo, algumas notas.
Esta questão, embora sempre objecto de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e de análise pouco compatível com um espaço desta natureza. No entanto, uma breve reflexão em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade, que me parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela que evidentemente, têm responsabilidades acrescidas e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais.
Esta fragilização tem, do meu ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais pelo impacto na percepção social de autoridade.
Em segundo lugar, tem vindo a mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não confere “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais.
Finalmente, importa considerar, creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”. 
Considerando este quadro, creio que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a recolocar como prioridade na agenda política.
A valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de punição e responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.
A condenação formal hoje noticiada é um sinal positivo.

sábado, 30 de maio de 2015

TEM QUE SER, QUE REMÉDIO

Por aqui no tecto do país continental, a Serra da Estrela, e na linha de alguns textos que por aqui passam, retorno a expressões que utilizamos com frequência no nosso quotidiano. Em minha opinião uma das expressões mas elucidativas da “alma portuguesa” é “tem que ser”, mas o “tem que ser” da resignação, não o “tem que ser” igual ao “quero que seja”. Quem nos ouvir e entenda vai ficar convencido de que estamos vivos e nos movemos porque, isso mesmo, tem que ser.
Se repararem, muitos de nós conseguimos responder com um “tem que ser” até a propósito de tarefas de que, em princípio, gostamos, “Vais almoçar?, "Tem que ser”. No entanto, na maior parte das vezes o tem que ser acompanha a referência a algo que faz parte da vida da maioria de nós, trabalhar ou estudar, ”Vais para a escola?, "Tem que ser”, “Vou para o trabalho, tem que ser”.
Somos, com é sabido, um dos países mais consumidores de medicamentos e com um nível elevado de auto-medicação. Esta tendência, será, por ventura, resultante de uma espécie de hipocondria colectiva. Provavelmente, por estas razões, o “tem que ser”, para os mais chegados às questões da saúde, é substituído pela variante “que remédio” sempre em modo resignação.
Viver porque “tem de ser”, viver porque “que remédio”, é demasiado curto para se viver bem.

DA VIOLÊNCIA E DELINQUÊNCIA ENTRE JOVENS

O Estado não falhou, falhou toda a comunidade.
Sem querer desculpar ou branquear comportamentos ou responsabilidades institucionais ou pessoais, incluindo, naturalmente, a responsabilidade do jovem pelos seus actos, creio que o nosso quotidiano vive inquinado com sementes de mal-estar que, por um qualquer gatilho ou circunstância, por vezes irrelevantes, se transformam em delinquência e violência dirigida a quem quer que seja.
Vai sendo tempo de nos interrogarmos sobre os tempos que vivemos, os valores que os informam, os modelos de discursos e comportamentos que evidenciamos, dos anónimos às elites e desde logo com as crianças, os atropelos à dignidade e direitos, a ausência de projectos de futuro que nos permitam a esperança e substituam o vazio em que muita gente, mais velha ou mais nova, vive.
Os Centros Educativos, as instituições que recebem jovens envolvidos em situações de delinquência mais grave sofrem de uma reconhecida sobrelotação e falta de recursos humanos com qualificação pelo que dificilmente cumprem o seu papel fundamental na construção de programas de educação e formação profissional.
Segundo dados da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, 24% dos jovens de alto risco de envolvimento em comportamentos de delinquência e a quem foram aplicadas medidas tutelares incluindo o internamento em Centros Educativos reincidiram nos primeiros 12 meses e ao fim de 26 meses a taxa de reincidência sobe para 48.6%. É de recordar que segundo o Relatório de Segrurança Interna de 2014, a delinquência de jovens foi dos crimes cuja prevalência subiu nitidamente.
De acordo com um estudo divulgado há meses, realizado no âmbito do Programa de Avaliação e Intervenção Psicoterapêutica no Âmbito da Justiça Juvenil, promovido pela Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e co-financiado pela Comissão Europeia, revelou que a média etária dos rapazes dos centros é de 16,6 anos. Em geral, acumulam mais de três anos de chumbos na escola, e, em 80% dos casos, são de famílias cujo estatuto socioeconómico é baixo. É ainda relevante que mais de 90% dos que foram entrevistados têm pelo menos uma perturbação psiquiátrica, “o que é um dado astronómico”, como classificou Daniel Rijo, professor da Universidade de Coimbra, um dos autores do trabalho para a DGRSP. Nem todos têm o acompanhamento que seria necessário, admitiu.
Sempre que estas matérias são discutidas, os especialistas acentuam a importância da prevenção e da integração comunitária como eixos centrais na resposta a este problema sério das sociedades actuais pelo que a resposta recentemente criada, (mas ainda só no papel) “casas de autonomização” pode constituir-se como um contributo se dotada de recursos adequados.
As Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, em reestruturação, sentem-se incapazes de acompanhar o volume de casos das respectivas comunidades, gerando situações, muitas conhecidas, com fim grave de crianças que depois ficamos a saber que estavam “sinalizadas” ou “referenciadas”, mas sem resposta.
Sabemos que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, no entanto, importa ponderar entre o que custa prevenir e cuidar e os custos posteriores do mal-estar e da pré-delinquência ou da delinquência continuada e da insegurança.
Parece ser cada vez mais consensual que mobilizar quase que exclusivamente dispositivos de punição, designadamente a prisão, parece insuficiente para travar este problema e, sobretudo, inflectir as trajectórias de marginalização de muitos dos envolvidos mais novos em episódios de delinquência.
No entanto a discussão sobre estas matérias é inquinada por discursos e posições frequentemente de natureza demagógica e populista alimentados por narrativas sobre a insegurança e delinquência percebida, alimentadora de teses securitárias.
Apesar de, repito, a punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade instalada, é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
É em todo este caldo de cultura que nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar.
É urgente que nos questionemos e questionemos as instituições, em nome dos nossos filhos e dos filhos dos nossos filhos.
Recordo Brecht, "Do rio que tudo arrasta diz-se que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem".

DO SUCESSO EDUCATIVO

Estou de saída para a Covilhã para participar num encontro com pediatras. O tema da sessão em que participo é o sucesso educativo.
Partindo do entendimento de que as dificuldades emergentes nos processos educativos e que, frequentemente, conduzem a insucesso e dificuldades, devem ser entendidas na interacção entre capacidades, competências e experiências dos alunos e o que família e escola lhe oferecem ou solicitam, centrarei a minha intervenção nesta segunda parte do enunciado, a relação da família e da escola com o sucesso educativo e escolar de crianças e adolescentes.
Não esqueço o papel fundamental das variáveis de natureza individual mas vou direccionar a minha reflexão para as variáveis exteriores aos alunos. Parto do princípio de que 150 000 "chumbos anuais", múltiplos problemas de comportamento, dentro e fora da escola, só como exemplo, não podem explicar-se apenas recorrendo às dificuldades específicas dos alunos. Neste sentido também tentarei sublinhar os riscos do "sobrediagnóstico", isto é, em qualquer situação de dificuldade a criança ou adolescente devem ter qualquer "problema" ou "quadro clínico" que importa diagnosticar. Destas práticas resultam casos de medicação desnecessária e com riscos ou a prescrição de "apoios especializados" que nem sempre são coisa alguma, apenas um preenchimento de tempo com actividades que podendo não fazer mal também se revelam de grande utilidade.
Dito isto, reconheço situações, por vezes sérias, de problemas nas crianças e adolescentes mas só avaliações competentes os identificam e permitem intervenções adequadas se para tanto existirem os recursos, evidentemente.
No tempo disponível, procurarei, portanto, reflectir sobre algumas variáveis que do meu ponto de vista e partindo da família e da escola devem merecer alguma atenção no sentido de minimizar os riscos de insucesso.
No que respeita à família abordarei questões como os estilos de vida, os modelos parentais e as expectativas e o impacto da forma como as famílias se organizam nestas dimensões pode associar-se ao desempenho educativo e escolar de crianças e adolescentes. Como exemplos, cito aspectos como hábitos de sono e rotinas, comunicação, regras e limites ou pressão para rendimento.
Relativamente à escola vou referir pontos como modelos e valores da educação, o que é educar hoje, que escola temos, os efeitos das políticas educativas, as expectativas da escola e o seu impacto nos alunos e a capacidade e recursos que a escola possui ou deverá possuir para acomodar as diferenças entre os alunos, ou seja, promover alguma forma de diferenciação, considerando a sala de aula, a escola ou os percursos dos alunos, só para ilustrar alguns áreas.
Bom, este conjunto de reflexões é, evidentemente, generalista mas considerando a proximidade entre pediatras, crianças e adolescentes e famílias e menor proximidade com a escola parece-me importante partilhar esta reflexão sobre variáveis exteriores ao indivíduo mas essenciais na construção do seu desejado sucesso educativo e escolar.
Vamos ver como corre.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A CHAMA IMENSA (take 2)

Sim, eu sei trata-se apenas da Taça da Liga, a Taça a que ninguém Liga, claro.
Mas a verdade é que se acendeu de novo a chama imensa.

SÃO ROSAS SENHOR ENGENHEIRO

Ao pesquisar por umas coisas antigas deparei-me com este texto que coloquei no Atenta Inquietude em 13 de Abril de 2009.
"SÃO ROSAS SENHOR ENGENHEIRO
Foi a resposta que a Dra. Maria de Lurdes Rodrigues deu ao Eng. Sócrates quando quis disfarçar o pão que levava no regaço para as criancinhas que passam mal e estão na escola.
A sério. Naquele jeito aprendido com o chefe da omnipotência milagrosa que faz concorrência a Deus, a Senhora Ministra vem garantir que as escolas resolvem todos os problemas de carência alimentar que identificam. É certo que fala apenas dos problemas identificados pelas escolas, mas como pode a Senhora Ministra dar este tipo de garantias com um ar sério. Como a Senhora Ministra certamente saberá, as escolas, da maneira que a Senhora Ministra tem definido as políticas educativas, nem a educação de qualidade para todas as crianças conseguem garantir apesar de todas as habilidades estatísticas e da certificação acelerada, ainda hoje assumiu que não conseguiu fazer chegar os Magalhães a todas crianças e garante resolver todos os problemas de carência alimentar. Por muito menos, curar o efeito de um pingo de óleo quente no olho de uma senhora, o Condestável passou a Santo.
Temos candidata a milagreira."
O resto, bom, o resto foi história.
Dado que vamos entrar em fim de semana convido-vos a um passatempo, promover uma actualização das personagens intervenientes e dos assuntos em apreço e tentar perceber como vão acontecendo as coisas no universo da educação.
Pode ser curioso. Digam qualquer coisa.

LIVROS, LEITORES E LIVREIROS

Ai está a Feira do Livro de Lisboa. Mais uma vez o esforço de atrair visitantes e bater recordes de afluência. Multiplicam-se iniciativas e eventos paralelos que animem o espaço. Destacam-se as sessões autógrafos como o objectivo de aproximar leitores e autores, dizem. Destes, uns desesperam por falta de procura, outros exasperam-se com filas sem fim e alguns outros gostam mesmo da tarefa de conhecer quem os lê.
No fim far-se-ão as contas, esperemos que com bons resultados e … até para o ano.
De facto, creio que a realização das Feiras do Livro, designadamente, as de Lisboa e Porto (em dúvida), para além das questões mais óbvias da venda dos livros, envolvem uma dimensão simbólica e cultural que não devem ser esquecidas, antes pelo contrário, mesmo num tempo em que as vendas on-line ganham espaço e competitividade em termos de preço.
O mercado livreiro estará, também, em recessão mas na verdade, de uma forma geral, os bens culturais em Portugal são um mercado caro, veja-se o preço dos livros, dos CDs e discos ou dos espectáculos.
O universo da cultura vive e vai viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar de investimento e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
Por outro lado, e no que respeita ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num mercado gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do "rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro como apenas um produto e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores, talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta batalha ganha-se na escola mas também na comunicação social. É certo que existe em actividade o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na comunicação social generalista, por exemplo na televisão, o livro está praticamente ausente embora exista o sketch do conhecido entertainer político, conhecido por Professor, que ao Domingo à noite despeja livros em cima de uma secretária enquanto faz, dizem, comentário político.
Insisto, é um problema de leitores, não de livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como agora, aspecto que seria interessante analisar.

ESTUDAR É UM BEM DE PRIMEIRA NECESSIDADE MAS MUITO CARO

Desculpem a insistência no tema mas creio que se justifica.
Segundo o Relatório "Sistemas Nacionais de Propinas no Ensino Superior Europeu", divulgado em 2014 pela Comissão Europeia Portugal é um dos cinco países entre os 28 Estados membros da União Europeia que cobram propinas a todos os alunos do ensino superior. Integra também o grupo de países em que menos de metade acede a bolsas de estudo.
Recordo que no início de 2014 um estudo patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava, sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os pagar. É também preocupante o abaixamento que se tem vindo a verificar de procura de ensino superior apesar deste ano se ter registado uma pequena subida. As dificuldades económicas são a principal razão para não continuar.
Por outro lado, talvez seja de considerar o impacto da tão perversa quanto errada ideia do "país de doutores" que se foi instalando com o precioso auxílio de uma imprensa preguiçosa e negligente pois não corresponde à verdade e que alimentando a ideia de que "estudar não vale a pena", representa um verdadeiro tiro no pé. Promove ainda o risco dos cidadãos desinvestirem em projectos de vida que passem pela qualificação, a verdadeira alavanca do desenvolvimento e, portanto, do futuro.
É ainda de relembrar que de acordo com o Relatório da OCDE, Education at a glance 2013, Portugal é um dos países europeus em que a frequência de ensino superior mais depende do financiamento das famílias, cerca de 31% dos gastos de universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União Europeia, 23,6%.
Esta informação não é nova. Na verdade e como é do conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o ensino superior em Portugal, contrariamente ao que muita gente afirma de forma leviana, tem um dos mais altos custos de propinas da Europa. Conforme dados de 2011/2012 da rede Eurydice, Portugal tem o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se considerarem as excepções criadas em cada país, tem efectivamente o terceiro custo mais alto no valor das propinas.
Ainda neste contexto, em 2012 foi divulgado um estudo realizado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos outros países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias para um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior particular o esforço é ainda maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens que exprimem a dificuldade de prosseguir estudos.
As dificuldades pelas quais passam muitos estudantes do ensino superior e respectivas famílias, quer no sistema público, quer no sistema privado, são, do meu ponto de vista, considerados frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Para reforçar a ideia de qua não somos, definitivamente, um "país de doutores" importa sublinhar que, apesar dos progressos dos últimos anos, estamos muito longe de poder vir a cumprir a meta a que nos comprometemos com a UE para 2020, 40% de pessoas licenciadas entre os 30 e os 34 anos.
A qualificação é a melhor forma de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um bem caro é imprescindível.
No entanto, os tempos que atravessamos e o vento que sopra da 5 de Outubro não parecem muito amigáveis.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

DISCUTIR EM CIRCUITO FECHADO O QUE DEVE FUNCIONAR EM CIRCUITO ABERTO

Realizou-se ontem na Assembleia da República uma Conferência, "Centros de Recursos para a Inclusão", a que, lamentavelmente, a agenda não me permitiu assistir.
Quando recebi o Programa estranhei, disso dei conta a alguns deputados da 8ª Comissão, que num debate sobre a Inclusão, seja lá isso o que for, não estivesse NINGUÉM que representasse verdadeiramente quem deve gerir e responsabilizar-se pela educação de TODOS os alunos, designadamente, no âmbito da escolaridade obrigatória, as ESCOLAS, evidentemente. 
Entendo que é pertinente discutir a problemática  dos Centros de Recursos para a Inclusão, o seu modelo de articulação, necessária, obviamente, com as escolas e outras entidades, as suas funções e competências, o seu financiamento, etc.. Só para dar um grande e urgente exemplo, ainda está em vigor a Portaria 275-A/2012 que é, simplesmente, insustentável e contra os princípio de uma educação inclusiva.
No entanto, esta discussão deveria, obrigatoriamente do meu ponto de vista, envolver as escolas regulares, os seus actores e responsáveis. A presença de representantes de instituições e de professores de educação especial, sendo óbvia, parece-me curta, muito curta. Faria também sentido a presença de pais ou seus representantes.
Penso que se corre o risco de discutir em circuito fechado o que está obrigado em funcionar em circuito aberto, inclusivo.
Assim, é mais difícil promover mudança. No entanto, também já não sei qual o sentido da mudanças pretendida. Ou sei.

FORMAÇÃO SUPERIOR E EMPREGO

Numa brevíssima síntese ficamos a saber que numa década Portugal tem dez vezes mais inscritos em cursos de mestrado, que existem pessoas com grau de mestre no desemprego e ou com problemas de empregabilidade associadas à área de formação e que o estatuto remuneratório dos diplomadas é muito significativamente superior ao de pessoas com habilitações até ao ensino secundário.
Algumas notas.
O aumento exponencial da procura de mestrados radica em vários fenómenos. Em primeiro lugar e desde logo porque o desenvolvimento das comunidades exige mais e melhor qualificação.
Em segundo lugar é de considerar que a chamada Reforma de Bolonha encurtou as licenciaturas, retirando-lhes valor, proporcionando valores muito mais simpáticos do número de pessoas com ensino superior e minimizando os custos públicos com o ensino superior pois o grau seguinte, mestrado, é suportado pelos estudantes e famílias.
Acontece ainda que, por um lado pela desvalorização da licenciatura, passando a três anos o que se fazia em cinco, levou a que muita gente entendesse continuar a estudar para além da licenciatura, por outro lado, existem áreas de formação em que o requisito para o exercício profissional é de cinco anos de formação de base pelo, obrigatoriamente qualquer candidato a essas áreas terá de fazer licenciatura e mestrado. É o caso da minha área de intervenção, realizei uma licenciatura de cinco anos que me habilitou para a profissão e os meus colegas mais novos têm de realizar licenciatura e mestrado para acederem aos cinco anos de formação inicial exigidos.
Ainda em matéria de demografia importa salientar que nos últimos anos estamos a assistir a um preocupante abaixamento da procura de formação superior que alguns estudos associam às dificuldades das famílias e às percepções sobre empregabilidade e precariedade.
De novo retomo a ideia de que isto assenta em perigosos equívocos.
O primeiro, radica no discurso recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que, dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
No trabalho de hoje, uma das peças do trabalho do Público titula "Número de mestres no desemprego disparou quase 30 vezes em sete anos". Quando analisamos os números percebe-se que os mestres representam 1.7% dos desempregados registados. Elucidativo.
No que se refere à diferença  significativo no estatuto salarial mostra, como sempre afirmo, que estudar compensa. Aliás, vários relatórios, da OCDE, por exemplo, mostram que Portugal é, justamente, um dos países em estudar mais compensa.
É claro que não podemos esquecer o altíssimo e inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens apesar das afirmações insustentáveis de Angela Merkel.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento tem vindo a proletarizar e que não absorve a mão-de-obra qualificada, sobretudo jovem. Não podemos passar a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.

CURRÍCULOS, AUTONOMIA E DIVERSIDADE

A quem possa interessar. As ideias que partilhei na Conferência "Currículos e Autonomia" na Assembleia da República no passado dia 13. As notas têm como título, "Currículos, autonomia e diversidade".

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A HISTÓRIA DA VACA AZUL. Outro diálogo improvável

Uma vez uma professora e os seus alunos. No fim de uma conversa sobre animais pediu aos miúdos para cada um escolher um animal e que fizesse um desenho que, colocados juntos, mostrariam muitos animais.
O Manel, como sempre, ficou a olhar pela janela algum tempo mas lá se resolveu a realizar a tarefa. Quando toda a gente finalizou a professora foi espreitar os trabalhos e encontrou o Manel, orgulhoso, a admirar a sua vaca, tinha uma linda cor azul e três cornos.
É bonita, não é Professora?
Manel, as vacas não são azuis e não têm três cornos.
Professora, quando a gente desenha, as vacas podem ter as cores todas e mais cornos.
Manel, assim não parecem vacas a sério.
Professora, esta não é uma vaca a sério, é a minha vaca pintada. De azul e com três cornos.
Manel, não podemos juntar um desenho com uma vaca azul aos outros desenhos que têm os animais parecidos com o que eles são.
Professora, mas isso não são desenhos, são retratos.
Manel, tens sempre que fazer diferente e, ainda por cima, não te calas, queres ter sempre razão.
Professora, posso fazer outra vaca, preta e branca, com dois cornos?
Claro que podes Manel, afinal sempre achas que estou certa.
Não professora, quanto mais igual eu for, mais tranquila é a minha vida.

DA CONVERGÊNCIA

Deve ser isto a que chamam convergência.

"Esta é a diferença. Eletricidade doméstica aumenta 2,9% na UE e 4,7% em Portugal"

(dados do EUROSTAT)

terça-feira, 26 de maio de 2015

A CANDIDATURA DE SAMPAIO DA NÓVOA

À medida que vou lendo e ouvindo os discursos e comentários negativos à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa mais convencido fico de que a generalidado dos seu conteúdos constitui a melhor justificação para a importância que a sua candidatura está a assumir.
Por outro lado, as posições que vamos conhecendo de Sampaio da Nóvoa sobre Portugal e os portugueses, os compromissos como lhes chamou, a visão das competências presidenciais, o discurso virado para pessoas e não para interesses de outra natureza constituem o seu maior desafio. Este desafio será a resistência aos aparelhos partidários que, mais cedo ou mais tarde, entrarão na sua candidatura e que, como sempre e por cultura política da partidocracia, tentarão o seu condicionamento.
Não duvido da genuidade da sua afirmação de independência sem hostilização dos partidos que são, evidentemente, essenciais à democracia embora esta exista, felizmente, para além dos partidos.
No entanto, as décadas de vivência em Portugal mostram-nos com clareza exactamente como fora da tutela dos aparelhos partidários a vida cívica é fortemente condicionada, sobretudo à escala nacional. 
Como tantas vezes ouvimos, em política não existem almoços grátis,
No entanto, será difícil, mas será possível.


O RAPAZ QUE SE PORTAVA MAL MUITO BEM

Era uma vez um rapaz que se portava mal muito bem, chamava-se Zé. Era até muito bom a portar-se mal. Havia colegas que eram muito bons em Português, Inglês, Educação Física ou Matemática, alguns eram mesmo bons a tudo, o Zé só era bom a portar-se mal. Mas nisso, repito, era mesmo bom, o melhor da escola.
O Zé conseguia ter sempre a nota máxima a mau comportamento, não que ele fosse mau, só se portava mal muito bem.
Os professores não gostavam assim muito do Zé mas os colegas, a maioria dos colegas gostava do Zé e pareciam gostar mais quando ele se portava pior. Achavam que o Zé fazia coisas mesmo difíceis, é que um tipo portar-se mal muito bem não é fácil e estavam sempre à espera que o Zé fizesse algo de novo que os divertisse, à custa dos professores é claro.
Sempre que o Zé fazia das suas ou era castigado, os colegas chegavam-se mais perto e faziam-no sentir popular e cada vez mais convencido de que os colegas gostavam dele.
E como o Zé precisava que gostassem dele. Tanto, tanto, que até se portava mal que era coisa de que ele nem gostava assim muito.

UMAS NOTAS NO PÚBLICO. "AS REVOLUÇÕES NA EDUCAÇÃO"

Umas notas no Público a propósito da revolução na educação em que acredita Sampaio da Nóvoa.
(...)
"Na verdade, Sampaio da Nóvoa tem razão, é preciso acreditar numa outra revolução que páre esta revolução que já está aqui, à nossa beira, nas nossas escolas."
(...)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

OS EXAMES E AS AULAS

Boa parte das escolas cessa actividades durante a manhã de quatro dias para a realização de exames a meio do período, algo de bizarro. Claro que tal situação afecta alunos de outros anos de escolaridade que ficam sem aulas, alunos com necessidades educativas especiais sem apoios educativos e as famílias com um problema de guarda dos filhos. Nada de estranho, evidentemente.
Como é óbvio os professores classificadores precisam de tempo para classificar os exames e esse tempo não é, naturalmente, compatível com a acumulação com aulas. Mais uma vez, esta situação decorre da realização dos exames a meio do período resultante da relação mágica de Nuno Crato com os exames criando um cenário  delirante se não fosse prejudicial para milhares de alunos. Primeiro, os alunos não têm aulas porque outros alunos estão a fazer exames e depois continuam sem aulas porque os professores estão a corrigir exames. É demais.
Assim, mais uma vez se evidencia a desvalorização das aulas e do papel e função dos professores por parte do MEC.
Os alunos não precisam de aulas, não precisam de professores para lhes dar aulas, precisam de exames, muitos exames, para que haja a certeza de que com rigor e competência se escolham, de facto, os melhores.
Os outros, bom, os outros são como as eleições, ou seja, que se lixem os outros.
Com a superior orientação do MEC haverá sempre um Alunão por perto. Como já vos disse, um Alunão é uma espécie de contentor para onde se empurram os alunos que não prestam, os que são para reciclar, tal como Pilhão ou o Vidrão.

AS CRIANÇAS DESAPARECIDAS. ALGUMAS ESTÃO À VISTA

O calendário das consciências determina que o dia 25 de Maio como o Dia Internacional da Criança Desaparecida. Assim sendo, algumas notas sobre este inquietante universo.
Segundo o Instituto de Apoio à Criança, em 2014 registaram-se menos casos de crianças desaparecidas que em 2013 sendo que boa parte tem um desfecho positivo como acontece, aliás, na grande maioria das situações de crianças que desaparecem.
Lamentavelmente nem sempre os processos decorrem assim, recordemos as tragédias mais mediatizadas que envolveram o Rui Pedro desaparecido há 16 anos em Lousada no norte de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve, dos quais nada se sabe sobre o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Embora se saiba, como já referi, que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é temporário, reactivo a incidentes pessoais ou a resultados escolares, alguns transformam-se em tragédias sem fim como os casos citados do Rui Pedro ou da Maddie McCann. Merece ainda registo o número elevado de crianças desaparecidas através do rapto parental em contexto de separações familiares com algo grau de litígio e que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em particular para os mais vulneráveis, as crianças.
Situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann são absolutamente devastadoras numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e neste contexto, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas que, por estranho que possa parecer, estão à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente despercebidas, são as que eu designo por crianças transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.

MALDITA REALIDADE

Um dia, talvez eu que sou um crente optimista nas qualidades do ser humano ainda consiga perceber a estranha convicção que boa parte da classe política com diferentes origens assume, sobretudo quando chega ao poder. Todo o seu discurso passa a assentar na ideia de que, “a realidade está errada, eu é que estou certo, ou seja, a realidade passa a ser a projecção dos meus desejos”. Dito de outra maneira, assumem que a realidade está enganada, o que eles pensam e o que afirmam é que está certo. Sempre.
Na verdade, esta gente, com mais ou menos habilidade, torturam dados, conhecimentos, informação e experiência e bombardeiam-nos sistematicamente até que, por exaustão ou acomodação, se convencem de que nos convencem. A realidade, acreditam, rendeu-se, passou a ser exactamente aquilo que eles querem que seja.
O problema é que a maldita realidade teima em desmenti-los.
Recordarão certamente as afirmações do Primeiro-ministro proferidas no início deste mês no Algarve, o Governo não "falhou em matéria social e, mesmo nos períodos de maior dificuldade, conseguiu prestar apoio às franjas mais carenciadas da população".
Muito provavelmente a fome e pobreza porque tantos passam inscreve-se num plano de combate à obesidade ou num voto de pobreza que garanta o céu.
Só para citar mais alguns dados, segundo a Cáritas Europa Portugal foi o país em que o risco de pobreza mais subiu em 2014 sendo que cerca de 25% de crianças estão nesta situação.
Mais de metade dos desempregados não acede a subsídio de desemprego. Foram cortados milhares de subsídios de abono de família e de outras prestações sociais como o rendimento social de inserção. Milhares de famílias caíram na insolvência sobretudo em consequência do desemprego brutal que as esmagou.
Maldita realidade, sem ela tudo estaria tão bem.

O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO

“A grande vitória de Paulinho é ser a pessoa que é”

Apesar das dificuldades,
Apesar dos obstáculos.
Apesar da intolerância.
Apesar da exclusão em nome da inclusão.
Apesar da discriminação disfarçada de caridade.
Apesar da retórica que alimenta a inércia.
Sim, eles são capazes.
Sim, eles são capazes.
Sim, eles são capazes.
O caminho faz-se caminhando, como diria António Machado.
Como o Paulinho é um Homem com pressa, faz o seu caminho correndo.

EM NOME DA LÍNGUA PORTUGUESA

Eis o que do meu ponto de vista será uma causa própria de quem se candidata a presidir à República Portuguesa, a defesa da sua língua contra o Acordo Ortográfico de 1990.
Não vai ser fácil, mas vai ser possível. 

domingo, 24 de maio de 2015

A SÍRIA E O ESTÁDIO DA LUZ

Estava a assistir ao Telejornal da RTP1. A jornalista anunciou que em Palmira, na Síria, segundo informações do terreno, o Estado Islâmico terá assassinado cerca de 400 pessoas na sua maioria mulheres e crianças. A notícia era acompanhada de imagens de intensos combates na zona.
As imagem saem do ecrã e, imediatamente, a jornalista informa-nos que estiveram 65 000 pessoas no Estádio da Luz a festejar o título do Benfica.
Antes de umas notas breves e para que conste tenho uma enorme paixão por futebol e ... sou benfiquista, vibrei com o bicampeonato.
Voltemos ao assunto. 
Não sou especialista em comunicação social.
Não sou especialista em critérios editoriais.
Não sou especialista em alinhamento de notícias
Não sou especialista em "ganhar audiências".
Mas sei que não pode valer tudo, os acontecimentos não têm todos o mesmo valor ou natureza.
Mas sei um bocadinho, só um bocadinho, de pessoas e, sobretudo, de respeito e dignidade, ética e moral
A morte de, pelo menos, 400 pessoas sobretudo mulheres e crianças não é da mesma natureza do festejo de um título no futebol. 
Estes acontecimentos não podem estar colados e tratados assim.
Ou podem?
Ou é assim que querem que seja?
Haja pudor e bom senso.

JÁ NÃO AGUENTO

Não é para vos ensombrar esta luminosa tarde de Domingo mas algumas notas que me parecem justificadas.
Recordo os dados do último estudo A Saúde dos adolescentes Portugueses, o de 2014, que integra o estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS, realizado de quatro em quatro anos e coordenado em Portugal pela excelente equipa da Professora Margarida Gaspar de Matos e de leitura obrigatória para compreensão do universo dos adolescentes e jovens portugueses.
Segundo o estudo, um em cada cinco alunos entre o 8º e o 10º ano já se magoou a si próprio, de propósito, nos últimos 12 meses, sobretudo cortando-se nos braços, nas pernas, na barriga... Referiram que se sentiam “tristes”, “fartos”, “desiludidos” quando o fizeram.
Este indicador, preocupante como é evidente, é-o tanto mais quando representa um aumento de quase cinco pontos percentuais do grupo dos que fazem mal a si próprios considerando o Relatório de há quatro anos.
É importante sublinhar que foram envolvidos no estudo 6026 alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, de Portugal continental, com idades entre os 10 e os 20 anos (a média de idades é 14 anos).
Na verdade, os comportamentos de automutilação em adolescentes são mais frequentes e graves do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com este tipo de comportamento pelo que os dados encontrados em Portugal são, de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por exemplo nas suas diferentes formas, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos autodestrutivos. 
Começa também a emergir como causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
O sofrimento e mal-estar induzem uma espiral de comportamentos em que os adolescentes causam a si próprios sofrimento que promove mais sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de perplexidade, impotência e sofrimento para as famílias também extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa parte do seu tempo.
De facto em muitos casos, designadamente, em comportamentos de automutilação, pode ser possível perceber sinais e comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. É também importante que pais e professores atentos não hesitem nos pedidos de ajuda ou apoio para lidar com este tipo de situações.
Muitos pais, diz-me a experiência, sentem-se de tal forma assustados que inibem um pedido de ajuda por se sentirem impotentes e perplexos.
O resultado pode ser trágico e obriga-nos a nós a uma atenção redobrada aos discursos e comportamentos dos adolescentes.

DA SÉRIE TESOURINHOS DEPRIMENTES

Embora não sendo a minha área, dada a informalidade deste espaço, atrevo-me a fazer uma sugestão.
A entrevista de Marinho Pinto, o "one man show" do PDR, ao Público possa ser objecto de estudo em ciência política e comunicação social como um paradigma de demagogia e apetência pelo poder, não importa como, não importa com quem, não se sabe para quê.
Ele anda aí.

NÃO SEJAS QUEIXINHAS

Gostei de ler a entrevista de Sheri Bauman no Público sobre a questão do bullying.
Da extensa entrevista que me parece interessante relevam algumas notas que muitas vezes também refiro quando abordo a questão do bullying, a tendência a desvalorizar o que as vítimas reportam, a necessidade de estar atento nos espaços educativos a grupos ou crianças mais vulneráveis e os modelos educativos que passamos com uma valorização da agressividade.
Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. 
O resultado pode ser trágico.

TODO O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇA

A Irlanda torna-se assim o 19.º país - o 14.º na Europa e onde se inclui Portugal - a legalizar o casamento homossexual.
É impossível não registar a alteração histórica na Irlanda com a decisão, por referendo, de legalizar o casamento homossexual. Em todo o caso também registo que tal alteração foi decidida com recurso a um referendo. Do meu ponto de vista, os direitos não se referendam, respeitam-se e defendem-se.
Ainda assim, recordo Camões:
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

sábado, 23 de maio de 2015

UMA ESCOLA INCLUSIVA DE 2ª GERAÇÃO. QUE SERÁ? QUE SERÁ?

Como já aqui referi, estive a ler com alguma atenção o Programa Eleitoral do PS, em particular no que respeita ao universo da educação e, mais especificamente, o que se pensa ou propõe na resposta educativa aos alunos com necessidades educativas especiais. O que se tem passado neste campo nos últimos anos exige mudanças urgentes que protejam os direitos dos alunos e famílias a uma educação de qualidade e, tanto, quanto possível, junto dos seus colegas de idade.
No conjunto das 21 causas que integram o Programa vasculhei a causa 2, "Combater o insucesso, garantir 12 anos de escolaridade", e … nenhuma referência ao universo dos alunos com necessidades educativas especiais
Estranhei mas depois encontrei. Na causa 19, "Por uma Sociedade mais Igual" no ponto "Promover a inclusão das pessoas com deficiência surge a intenção de promover "A aposta educativa numa escola inclusiva de 2ª geração que deverá intervir no âmbito da educação especial e da organização dos apoios educativos às crianças e aos jovens que deles necessitam. 
Ainda continuei a ler procurando alguma clarificação sobre este interessante avanço conceptual "Uma escola inclusiva de 2ª geração" mas ... nada. Mais nada.
Bom, a partir daqui restou-me tentar estudar a questão, é um princípio de vida, não sabemos, procuramos a quem sabe ou estudamos.
Mas nem por aqui encontrei algum esclarecimento sólido e claro. Bom, para além da vossa ajuda que desde já solicito, resta-me o “achismo”, ou seja, o que é que eu acho que é “uma escola inclusiva de 2ª geração”  “que deverá intervir no âmbito da educação especial”.
Em primeiro lugar esta afirmação não faz sentido algum, uma escola a intervir na educação especial, isto é o quê, para além de uma enorme confusão e ignorância? Nem vale a pena tentar perceber é uma charada sem solução e disparatada
Segundo, o que será mesmo uma “escola inclusiva de 2ª geração”? Uma escola para os filhos dos alunos das escolas "inclusivas de 1ª geração” que de qualquer forma também não sei o que será? Uma escolinha pequena ao lado das escolas actuais”? Não entendo mesmo, Alguém que me ajudasse e ficaria grato, gosto de perceber o que nos pode vir a acontecer.
Na verdade a tentação de “inventar” neste universo é frequente. Um dos melhores exemplos foi a criação na legislação de uma figura designada por Currículo Específico Individual, uma coisa bizarra onde se trancam alunos que dificilmente se libertam de estigma, rótulo, que lhes colam. Aliás, e como sabem os mais próximos do universo da escola é vulgar a deselegante e feia referência aos “CEIS”, os alunos que têm CEI, algo que não consigo ouvir sem um sobressalto de incómodo.
Na altura tentei perceber este ”conceito” Currículo Específico Individual” e também não encontrei grande ajuda. Talvez esta dificuldade advenha do entendimento de que um “Currículo” que é desenhado para um aluno, será, portanto, Individual, só pode mesmo, ser Específico, sobe pena de não ser individual.
Temos muitos mais exemplos destas questões que, do meu ponto de vista, radicam, entre outras, numa questão, a tentação permanente de utilizar os normativos para criar doutrina quando os normativos deveriam servir para regular procedimentos. A doutrina com base na evidência científica e no quadro de valores, opções ideológicas e valores constitucionais transmite-se através de orientações políticas, as leis apenas devem regular os procedimentos.
Resta-me, como já compreenderam, contar com a vossa ajuda para perceber o que será uma “escola inclusiva de 2ª geração” que “deverá intervir no âmbito da educação especial”. Talvez o autor(a) ou autores possam clarificar.
Muito agradecido.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

SÃO COISAS DO MUNDO

São coisas do mundo, só se podem ver ao longe, diziam os Heróis do Mar num velho tema, o Fado, que estou a ouvir numa onda de revivalismo. Agora, tempo em que as coisas do mundo, todas as coisas, estão perto, demasiado perto, a ideia faz ainda mais sentido.
As coisas demasiado perto invadem-nos, ocupam-nos, esmagam-nos, empurrando-nos umas vezes para cima, empurrando-nos outras vezes para baixo, mas sempre roubando a lucidez do olhar e do pensar.
Acabamos por nos proteger com a banalidade em que se transformam.
Acabamos por nos proteger com a normalidade que lhes atribuímos sem atribuir.
Deixamos, então, de entender as coisas do mundo.

DA EXCLUSÃO

Cerca de 100 alunos surdos que frequentam o 9º ano não puderam realizar o Preliminary English Test no âmbito da PPT estabelecida entre o MEC e Cambridge contando com o apoio desinteressado de um conjunto de empresas e da Fundação Bissaya Barreto.
É verdade que o PET tem pouco préstimo mas foi o MEC que determinou a sua obrigatoriedade para os alunos do 9º ano.
Os alunos surdos não podem realizar a parte da prova que obriga a utilizar um CD audio, algo de impossível, e assim viram-se excluídos.
O problema teria solução se os alunos fossem examinados em leitura e escrita o que carece de autorização.
O MEC foi alertado mas o MEC pensa na norma, não pensa na diferença. Nada que se estranhe nos tempos que vamos vivendo.
A educação, a escola, está cada vez mais normalizada onde a diferença, qualquer tipo de diferença, não pode ser acomodada.
Vão-se criando sucessivos guetos, curriculares e/ou físicos e inibe-se participação de milhares de alunos nas actividades regulares das suas comunidades.
Sempre em nome da inclusão, da excelência, da competência, blá, blá, blá, ...

quinta-feira, 21 de maio de 2015

DA SÉRIE TESOURINHOS DEPRIMENTES

Num livro de exercícios de Físico-química para alunos do 9º ano da editora Areal consta um exercício em que rapaziada tem que fazer umas contas para saber o que acontece a um gato que  "o Diogo largou da varanda do seu quarto a 5 metros de altura".
Extraordinário exemplo de opções didáctico-pedagógicas, pois vai ao encontro de uma das actividades mais motivadoras para os alunos, atirar gatos da varanda, promove a aplicação real dos conhecimentos e também de sensibilidade ética, foi só de 5 metros de altura. 
Confesso que nem sequer percebo a reacção da editora que afirmou ir retirar o exercício do livro a editar.
Demasiado estúpido, delinquente e incompetente mas suficiente para se perceber o mercado dos "livros de exercícios", "cadernos de actividades", "materiais de apoio", etc., usados num ensino excessivamente manualizado e que onera muitíssimo as famílias.

OS NOVOS PROGRAMAS DE MATEMÁTICA QUE DE NOVO PARECEM TRAZER ... PROBLEMAS

Recorde-se que, tal como no Ensino Básico, o novo Programa de Matemática visa substituir  o que estava em vigor apenas desde 2007 sem que tivesse sido avaliada a sua bondade. A mudança nos programas destinam-se evidentemente, a torná-los coerentes com as metas curriculares de 2012 num processo que parece inverso ao que seria desejável, primeiro deveriam ser definidos os conteúdos do programa e que seriam depois operacionalizados através de metas.
A expectativa de que algo possa ser revista é baixa, passou-se assim com o Programa para o Básico, mas os promotores entendem a necessidade de que, pelo menos, se discuta a questão.
Não sendo especialista nesta áreas procuro acompanhar a questão dada a sua óbvia relevância. Na verdade, o que parece estar em jogo são diferentes concepções sobre o papel da compreensão e da memorização na aprendizagem da matemática. Eu diria diferentes concepções sobre educação e escola.
Recordo que quando foi colocado em discussão um novo Programa de Matemática, o Ministro Nuno Crato ter sustentado a iniciativa com a “grande liberdade metodológica aos professores”, para ensinarem de acordo com“ a sua experiência, as suas técnicas e a sua sala de aula” face a um programa moderno e com "objectivos mais facilmente perceptíveis". O Ministro insistiu que "a ideia foi sempre dar esta liberdade metodológica”, para que cada docente fique livre de definir o seu próprio método de ensino dos diversos conceitos. Muito bem. Creio que até disse isto sem se rir.
Ainda no que dizia respeito a metodologias, lia-se no ponto 6 do Documento, "Tendo em consideração, tal como para os níveis de desempenho, as circunstâncias de ensino (de modo muito particular, as características das turmas e dos alunos), as escolas e os professores devem decidir quais as metodologias e os recursos mais adequados para auxiliar os seus alunos a alcançar os desempenhos definidos nas Metas Curriculares.
A experiência acumulada dos professores e das escolas é um elemento fundamental no sucesso de qualquer projeto educativo, não se pretendendo, por isso, espartilhar e diminuir a sua liberdade pedagógica nem condicionar a sua prática letiva. Pelo contrário, o presente Programa reconhece e valoriza a autonomia dos professores e das escolas, não impondo portanto metodologias específicas.
Sem constituir ingerência no trabalho das escolas e dos professores, nota-se que a aprendizagem matemática é estruturada em patamares de crescente complexidade, pelo que na prática letiva deverá ter-se em atenção a progressão dos alunos, sendo muito importante proceder-se a revisões frequentes de passos anteriores com vista à sua consolidação." Seguia-se a orientação para que não se use a calculadora.
Este texto, como disse na altura ... não diz nada seria, aliás, um bom exemplo do que o ex-opinador Ministro Crato designava por eduquês.
O que continuo com uma enorme dificuldade em entender é como é que esta retórica sobre "liberdade metodológica", "características das turmas e dos alunos", "autonomia dos professores e das escolas, "revisões frequentes", etc., como metas extensíssimas, conteúdos desadequados, dizem os especialistas, turmas em cima dos 30 alunos no Secundário e 26 no Básico, falta de apoios, etc.
O ensino tenderá a transformar-se na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem preparando-se exclusivamente para a realização de exames, quantos mais melhor.
Apesar do MEC acenar com a referência aos modelos anglo-saxónicos como selo de qualidade, o que está longe de acontecer, devo confessar que continuo apreensivo tal como os autores do Programa de Matemática que estava em vigor, a Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática e a Associação Nacional dos Professores de Matemática, entidades que recorrentemente manifestaram reservas face aos novos programas de Matemática, alertando para o risco de retrocesso nos resultados positivos que os últimos dados dos estudos comparativos internacionais demonstraram utilizando um programa que estava agora a terminar a sua fase de generalização e era de apenas de 2007.
Dada a habitualmente assumida infalibilidade e a arrogante genialidade do MEC que escondem alguma ignorância e uma agenda ideológica, embrulhadas em palavras como rigor, exigência as mudanças, também nesta matéria, não se verificarão alterações.
Os ventos do tempo, vão fazendo o seu caminho construindo um modelo de educação que produzirá exclusão, quer de professores, por umas razões, quer de muitos alunos que serão direccionados para o ensino dual em modo Crato e entrarão bem cedo nas fábricas previstas na prometida “reindustrialização” do país.
Restará o pequeno grupo que constituirá a elite e assim se cumprirá a visão de escola desta gente.

AS AULAS DE 90 MINUTOS SÃO UMA SECA

No mesmo sentido se pronuncia Filinto Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamento e Escolas Públicas e director de um agrupamento de escolas de Vila Nova de Gaia. "É preciso diminuir o tempo letivo de 90 para 50 minutos. Estar numa sala de aula a ouvir alguns professores durante 90 minutos é uma seca. Até para nós é dose".
Esta argumentação, "a aula é uma seca" a que se junta a "imaturidade" ou "capcidade" dos alunos mais novos estarem atentos causa-me alguma perplexidade, para mais vinda de professores.
A duração de uma actividade escolar, uma aula, não pode, do meu ponto de vista, ser analisada em termos abstractos e concluir que 90 m é uma "seca" ou que alunos de 14 anos não suportam 90 m e será melhor a aula durar 60 ou 45 minutos.
Existem outras variáveis que contribuem de forma muito significativa para o comportamento e rendimento dos alunos em actividades escolares.
Em primeiro lugar os conteúdos, ou seja, os currículos, Está estudado e a experiência diz-nos que quanto mais dermos sentido ao que estamos aprender, se compreendermos a funcionalidade das aprendizagens a motivação sobre e, naturalmente, a atenção também. Assim, e conforme afirmo de há muito existe uma forte relação entre a natureza dos currículos que temos, extensos, prescritivos e inibidores de estratégias de diferenciação por parte dos professores e os comportamentos dos alunos. Com este modelo de currículos é mais difícil motivar os alunos e, portam, diminuir o risco de indisciplina. Veja-se a este propósito o que publicamente é conhecido para fundamentar a reforma curricular a realizar na Finlândia.
Em segundo lugar, a atenção dos alunos, a sua concentração, para além dos conteúdos, está fortemente relacionada com o trabalho dos professores, as metodologias, as actividades, o clima em sala de aula, os recursos, etc. Todos temos experiência de "aulas grandes" que são "secas pequenas" e "aulas pequenas" que são "secas enormes".
Asim sendo, importa relectir, por uma lado sobre a formação de professores. Existem, evidentemente, experiências positivas e menos positivas mas é uma área que carece de urgente reflexão. No entanto, importa sublinhar que a sinistra PACC não contribui de todo para esta questão, antes pelo contrário.
Por outro lado e finalmente, este trabalho do professor depende, obviamente, das condições em que se realiza. Turmas com número excessivo de alunos, falta de recursos, escolas com dimensões que só porsi são factores de risco, escolas que por efeito da guetização social e urbanística servem populações com carcterísticas que solicitariam maior autonomia para acomodar essas características são outro enorme contributo para a atenção ou concentração dos alunos, seja durante 45, 60 ou 90 minutos. 
Aliás, as escolas até já podem definir a sua duração, assim tivessem autonomia para as outras questões, as essenciais.
Em síntese, discutir a duração das aulas sem considerar estas matérias faz correr o enorme risco de branquear ou desvalorizar a sua importância, intencionalmente ou não.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

DAS OMISSÕES DO PROGRAMA DO PS. A EDUCAÇÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

Estive a ler com alguma atenção o Programa Eleitoral do PS que hoje fui conhecido. Por razões pessoais e de tempo centrei-me sobretudo no que à educação diz respeito e em particular o que se pensa promover numa área que tão maltratada tem sido nos últimos anos, a educação das crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
Fiquei bastante animado, confesso. Na causa 2 "Combater o insucesso, garantir 12 anos de escolaridade", ... nem uma referência. Pode acontecer que eu não a tenha encontrado. Vou ler ainda mais uma vez.
No tópico que corresponde à causa 19, "Por uma Sociedade mais Igual" no ponto "Promover a inclusão das pessoas com deficiência encontrei a intenção de promover "A aposta educativa numa escola inclusiva de 2.ª geração que deverá intervir no âmbito da educação especial e da organização dos apoios educativos às crianças e aos jovens que deles necessitam.  
Pensei que iria encontrar alguma clarificação sobre este interessante avanço conceptual "Uma escola inclusiva de 2ª geração" mas ... nada. Mais nada.
A coisa fica por assim mesmo.
Para começo não é propriamente animador. Iremos falando sobre outros aspectos.

O RAPAZ QUE VIVIA NO FUTURO

A minha adolescência decorreu na segunda metade dos sessenta. Alguns lembrar-se-ão, eram tempos social e culturalmente fechados, sombrios, para muitos de nós. O que acontecia fora, ideias, tendências, cultura, etc., dificilmente chegava à maioria das pessoas e o pouco que conhecíamos surgia, invariavelmente mais tarde.
No entanto, este cenário não se aplicava ao meu amigo Zé Manel. Nunca percebemos como, naqueles tempos não era fácil, mas o Zé Manel andava sempre mais à frente que nós. Falava-nos de ideias, factos ou modas que estavam a desenvolver-se no estrangeiro e que só algum tempo depois, e nem sempre, nós conhecíamos.
Mostrava-nos música, nomes para nós desconhecidos, que só mais tarde se ouviam, nem todos, de forma mais alargada. Usava roupa diferente de nós, enfrentando a reprovação activa de muitos adultos.
Quando lhe perguntávamos como tinha acesso a tudo aquilo, respondia entre o gozo e o mistério, “eu vivo no futuro”, quanto maior era a nossa curiosidade, mais o Zé Manel insistia, “vivo no futuro, as coisas lá são assim”.
O final do liceu separou-nos, a alguns até geograficamente. Nunca mais vi o Zé Manel. De vez em quando, perguntava a antigos companheiros se sabiam dele. Estranhamente, ninguém soube mais nada, nunca.
Será que o Zé Manel foi, definitivamente, viver para o futuro? Ele parecia tão pouco interessado no presente.
Há muitos rapazes e raparigas assim, pertencem a um tempo em que não vivem. E sofrem com isso.

NÃO HAVERÁ MAIS CORTES NA EDUCAÇÃO. A SÉRIO?

Crato garante que não haverá mais cortes na Educação

Nuno Crato garante que não haverá mais cortes na educação afirmando não ter intenção de seguir os "conselhos" do FMI que recomenda mais cortes no número de professores nas despesas da educação.
Bom, se Nuno Crato garante que não haverá mais cortes ... eu acredito. Estamos, estamos, creio, habituados a confiar nas afirmações do Senhor Ministro. De louvar ainda a corajosa atitude de discordar dos chefes.
E é justamente por confiar nas afirmações do Senhor Ministro que fico preocupado com a inexistência de mais cortes no número de professores e no orçamento. Está comprovado e Nuno Crato tem afirmado recorrentemente que a Educação está melhor e ficou melhor com os cortes brutais que se verificaram. Porquê parar agora quando estávamos no bom caminho e a educação melhor que nunca.
Nuno Crato está como o Primeiro-ministro. Levou anos a afirmar que o empobrecimento é que nos salvava e, assim sendo, foi tratando de emprobrecer a generalidade das pessoas, não todas evidentemente. Há sempre pessoas que não querem ser salvas e preferem ficar ricas, até mais ricas. São uns ingratos mal-formados.
Agora que tudo se estava a compôr, a pobreza a florescer e a fazer parte do quotidiano de milhões de portugues, começa a prometer aumentos e reposições e os amanhãs que cantam.
Cheira bem, cheira a eleições. Eleições?! As eleições que se lixem.
Pois é.

A INDISCIPLINA ESCOLAR. Problemas velhos, problemas novos, soluções velhas, soluções novas

No Público, a propósito desta iniciativa são referidos os recentemente noticiados casos graves de violência o que que também está patente em alguns discursos citados na peça.
Esta associação deve, do meu ponto de vista, ser vista com prudência. De facto ao abordarmos a "indisciplina na escola" importa em primeiro lugar clarificar o que está em causa. Permitir, por exemplo, que um telemóvel toque na sala de aula ou outros comportamentos desadequados em sala de aula ou na escola serão indisciplina, insultar, humilhar, confrontar fisicamente um professor, comportamentos frequentes de agressão ou roubos a colegas serão configuram pré-delinquência ou delinquência e comportamentos disruptivos podem ainda estar ligados a perturbações de natureza psicológica.
A escola não pode ser responsabilizada e considerada competente por e para todo este universo de problemas nos comportamentos dos mais novos. Para situações de pré-delinquência ou perturbações do comportamento pode, evidentemente, dar contributos mas não assumir a responsabilidade pelo que importa clarificar a análise.
Centremo-nos então na indisciplina escolar que considero matéria de competência da escola e matéria de responsabilidade de toda a comunidade, incluindo os pais, naturalmente, e todas as figuras com relevância social, por exemplo, não se riam, políticos ou jogadores de futebol.
Desde 2012, ano em que o Estatuto do Aluno entrou em vigor, 400 alunos já foram obrigados a mudar de escola devido a actos de indisciplina graves. Seria interessante perceber se daí advieram alterações no seu comportamento. A medida prevista de multas e cortes de subsídios aos pais dos indisciplinados não foi aplicada em nenhum caso o que me parece sensato.
Como curiosidade e dado acrescido recordo que um estudo de conhecido em 2014 desenvolvido pela Universidade do Minho revelava que 84% dos professores do ensino básico inquiridos entende que a indisciplina escolar aumentou nos últimos anos sendo que 2,5% sustenta que a situação melhorou e 11% afirma que a situação estabilizou. Sabe-se também que boa parte do tempo dos professores em sala de aula é gasto na gestão do comportamento dos alunos em detrimento das tarefas de ensino.
Foi introduzido um novo Estatuto do Aluno no qual o MEC depositava públicas esperanças que me pareceram, desde sempre, sobrevalorizadas e desadequadas face aos seus conteúdos e à realidade das escolas e comunidades actuais. De qualquer forma, o Estatuto do Aluno, qualquer que seja, é um regulador, melhor ou pior, mas nunca A solução e, pela mesma razão, nunca será A causa da indisciplina. Daí a minha reserva face aos discursos do MEC acreditando que do lado de fora da escola os problemas se resolverão.
Parece-me também de referir que todas as figuras sociais a que se colam traços de autoridade por exemplo, pais, professores, médicos, polícias, idosos, etc., viram alterada a representação social sobre esses traços. Dito de outra maneira, o facto de ser velho, polícia, professor ou médico, já não basta, só por si, para inibir comportamentos de desrespeito pelo que importa perceber o impacto destas alterações nas relações entre professores e alunos.
As mudanças significativas no quadro de valores e nos comportamentos criam dimensões novas em torno de um problema velho, a indisciplina. Daqui decorre, por exemplo, que restaurar a autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se processava antigamente e falar da "responsabilização" dos pais é interessante, mas é outro nada.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais competente e apoiado se sentir. O apoio aos professores é um problema central no que respeita à indisciplina mas não só.
Assim sendo, o MEC não pode desenvolver políticas que socialmente deixem o professor desapoiado, que comprometam o clima e a qualidade de trabalho nas escolas e, simultaneamente, afirmar que vai restaurar a sua autoridade e promover a sua valorização social. Também por isto se questiona a incompetente constituição de mega-agrupamentos e de escolas e turmas com dimensões excessivas, variável associada à indisciplina escolar.
É também importante reajustar a formação de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de abordagens "novas".
Parece também importante a existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos humanos qualificados e disponíveis. Veja-se o trabalho dos GAAFs apoiados pelo IAC, experiências no âmbito da intervenção da Associação EPIS ou iniciativas que algumas escolas conseguem desenvolver e que permitam apoiar os pais dos miúdos maus que querem ter miúdos bons e identificar as situações para as quais, a comprovada negligência dos pais exigirá outras medidas que envolvam, eficazmente e em tempo oportuno as CPCJ.
Um caminho de autonomia, com a alteração desejável dos modelos de organização e funcionamento das escolas e na gestão curricular, deveriam permitir que as escolas, algumas escolas, mais problemáticas tivessem menos alunos por turma, mais assistentes operacionais com formação em mediação e gestão de conflitos ou ainda que se utilizassem, existindo, professores em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades. 
Por outro lado, os estudos e as boas práticas mostram que a presença simultânea de dois professores é um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão com muita frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com sucesso, em princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de indisciplina.
Os professores também sabem que na maior parte das vezes, os alunos indisciplinados não mudam os seus comportamentos por mais suspensões que sofram. É evidente que importa admitir sanções, no entanto, fazer assentar o combate à indisciplina nos castigos aos alunos e nas multas e retirada de apoios aos pais, é ineficaz, é facilitista na medida em que é a medida mais fácil e mais barata, é demagógica porque vai ao encontro dos discursos populistas que aplaudem a ideia do "prender" do "expulsar" até ficarem só os nossos filhos.
O problema é quando também nos toca a nós, aí clamamos por apoios.

Os discursos demagógicos e populistas, ainda que bem intencionados, não são um bom serviço à minimização dos muito frequentes incidentes de indisciplina que minam a qualidade cívica da nossa vida além, naturalmente, da qualidade e sucesso do trabalho educativo de alunos, professores e pais.

terça-feira, 19 de maio de 2015

DA INCLUSÃO. A HISTÓRIA DO TITA

O caso já tinha sido divulgado nas redes sociais e na imprensa regional. Uma discoteca em Abrantes proibiu a entrada a um jovem com Trissomia 21 alegando que pessoas com deficiência não podem frequentar aquele espaço. Hoje chegou ao Público com a informação de que existe uma queixa formal contra o estabelecimento por discriminação.
O argumento seria ridículo se não fosse mais um exemplo fortíssimo do que está por fazer no que respeita à qualidade de vida, dignidade e direitos das pessoas com deficiência. Como sempre afirmo o verdadeiro critério da inclusão é a participação nas actividades das comunidades em que as pessoas, todas as pessoas, vivem. Tem sido sempre assim, a história da inclusão é a história da democracia, da participação de todos.
O episódio mostra como essa participação é inibida.
No entanto e a este propósito volto a uma questão que várias vezes aqui refiro e que me preocupa muitíssimo, a proliferação de situações, designadamente no que respeita a crianças, adolescentes e jovens com necessidades especiais, que "vivem do lado de fora" das actividades das comunidades educativas em que por direito deveriam estar incluídos e não "entregados" ou nem isso.
Na verdade, apesar de excelentes práticas e ao abrigo de legislação que, em nome da inclusão, sublinhe-se, acomoda a exclusão, muitos crianças e jovens vão sendo acantonadas em espaços curriculares que os "debilizam" ou em espaços físicos, dentro ou fora das escolas, que os empurram para baixos quando não inexistentes níveis de participação nas actividades das comunidades educativas a que por direito pertencem.
Existem famílias de alunos com NEE que vão sendo "aconselhadas" a que os seus filhos "frequentem" durante mais tempo as instituições de ensino especial que, naturalmente, precisam de mais apoios para receber os alunos matriculados nas escolas regulares e que em nome da inclusão passam cada vez mais tempo em instituições ou espaços pouco inclusivos ou mesmo segregados.
Pois é Tita, essa coisa de ir a um espaço de diversão com os amigos não é para todos., Desculpa lá, pá, mas tens uma cara estranha e os outros clientes podem ficar incomodados, vai até casa e vê televisão. É melhor para ti, é mais sossegado. Para todos.

DA VIOLÊNCIA E DAS SEMENTES DE MAL-ESTAR

Os últimos tempos têm sido férteis em episódios de violência particularmente graves envolvendo, adolescentes e jovens, adultos, famílias ou mesmo as forças policiais.
Sem querer desculpar ou branquear comportamentos creio que o nosso quotidiano vive inquinado com sementes de mal-estar que, por um qualquer gatilho ou circunstância, por vezes irrelevantes, se transformam em violência dirigida a quem quer que seja.
Vai sendo tempo de nos interrogarmos sobre os tempos que vivemos, os valores que os informam, os modelos de discursos e comportamentos que evidenciamos, dos anónimos às elites e desde logo com as crianças, os atropelos à dignidade e direitos, a ausência de projectos de futuro que nos permitam a esperança e substituam o vazio em que muita gente, mais velha ou mais nova, vive. É neste caldo de cultura que nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar.
É urgente esse questionamento, em nome dos nossos filhos  e dos filhos dos nossos filhos.
Recordo Brecht, "Do rio que tudo arrasta diz-se que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem".

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O HOMEM DO TERMÓMETRO

Notícias do Homem do Termómetro. Por um qualquer conjunto de razões de natureza misteriosa Nuno Crato parece ter a estranha e mágica convicção de que se medir muitas vezes a febre esta baixará.
Talvez fosse de tentar perceber que é mais adequado analisar as causas da febre, decidir procedimentos e intervenções e só depois medir para perceber se a intervenção resultou. Medir obssessivamente é pouco eficaz.
Dito de outra maneira, os exames só por existirem, não melhoram a qualidade do trabalho de alunos e professores . 
A qualidade promove-se com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação pessoal e profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. 
O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas de que os exames são uma das ferramentas, veja-se o a forma como é gerido o seu grau de dificuldade como o presidente do Conselho Científico do IAVE explicou confirmando o que todos sabemos.